Vivemos num mundo cheio de contradições. De um lado, a tecnologia avança, as bolsas sobem, empresas lucram bilhões. Do outro, gente passando fome, sem acesso ao básico. No Brasil, um país com tantos recursos, isso é ainda mais chocante. E aí a gente começa a se perguntar: como um sistema tão bem estruturado como o capitalismo pode deixar tanta gente para trás?
Aprendemos que o liberalismo, lá no seu começo, falava muito sobre liberdade — principalmente liberdade individual, econômica, de expressão. Era uma reação ao poder absoluto do Estado. Só que, com o tempo, ficou claro que só “liberdade” não basta. Afinal, que liberdade tem uma pessoa que acorda todo dia sem saber se vai conseguir comer? Ou que nunca teve acesso à educação de qualidade?
E é aí que entra o chamado liberalismo social, que defende que o Estado precisa garantir condições mínimas para que essa liberdade realmente exista para todos. Não adianta falar de mérito se uns largam da linha de chegada e outros do meio do caminho. A igualdade de oportunidades é essencial para que a liberdade seja mais que um discurso bonito.
A situação da Palestina, por exemplo, mostra como a falta de direitos básicos, somada à opressão e à violência, pode destruir qualquer possibilidade de autonomia. A mesma lógica, em menor escala, aparece aqui no Brasil, onde o sistema continua deixando milhões de pessoas à margem, como se fosse natural viver com fome ou sem dignidade.
Na faculdade, ouvimos muito que o Direito é uma ferramenta de transformação social. E eu acredito nisso. Mas essa transformação só acontece se houver coragem de enfrentar as estruturas que alimentam a desigualdade. Regular o mercado, investir em políticas públicas, aplicar a justiça distributiva — tudo isso faz parte de uma leitura mais humana e moderna do liberalismo.
Não se trata de jogar o sistema fora, mas de ajustá-lo para que funcione para todos. O capitalismo, sozinho, não resolve. É preciso colocar limites, colocar as pessoas em primeiro lugar. A dignidade da pessoa humana não pode ser só uma frase bonita na Constituição — ela tem que orientar cada decisão, cada política, cada escolha da sociedade.
Yago Storti, matutino.
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