Émile Durkheim via a sociedade como um organismo, onde cada parte tem uma função que ajuda a manter a ordem. Essa visão ficou conhecida como funcionalismo. Instituições como escola, religião e leis servem para unir os indivíduos e garantir estabilidade.
Durkheim foi influenciado pelo positivismo de Comte. Ambos defendiam o uso da ciência para entender a sociedade. Mas Durkheim se preocupava mais com as mudanças sociais e os efeitos da modernidade.
O funcionalismo tende a tratar a desigualdade como algo natural. Ao buscar a harmonia social, muitas vezes ignora os conflitos e reforça o que já está posto. A ordem serve mais a quem já tem poder.
Dentre os seus conceitos mais importantes estão a solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A mecânica aparece em sociedades tradicionais, onde as pessoas são parecidas e seguem os mesmos valores. A orgânica surge nas sociedades modernas, onde a união vem da diferença e da dependência mútua.
Com a globalização, o mundo passa a desenvolver uma interconexão complexa e tipicamente associada à solidariedade orgânica. As economias se tornaram interdependentes, com cadeias produtivas transnacionais e mercados conectados. Mas a crise do capitalismo global mostrou outra face desse sistema. A guerra comercial entre Estados Unidos e China se tornou um marco dessa mudança. Não é apenas uma disputa por tarifas, mas uma batalha por controle tecnológico, influência política e soberania econômica. Cada país tenta fortalecer sua posição interna e externa, usando o conflito como ferramenta para criar coesão social diante de tensões internas.
O mais interessante é que, apesar da intensidade do confronto, o sistema internacional de comércio não colapsa. Ao contrário, ele se adapta para continuar funcionando. A Organização Mundial do Comércio, os acordos bilaterais, a reorganização das cadeias produtivas e o crescimento de blocos econômicos alternativos mostram que o sistema encontra novas formas de se manter. A guerra, nesse caso, cumpre uma função. Segundo uma leitura funcionalista, os conflitos entre grandes potências não rompem a ordem, mas a reconfiguram. Servem como mecanismos de reajuste, redistribuindo funções e papéis dentro do sistema, sem colocar em xeque sua lógica principal: a circulação de capital, bens e poder.
Essa adaptação revela o quanto o sistema é capaz de absorver e até normalizar conflitos em nome da estabilidade. A solidariedade orgânica, marcada pela interdependência, cede lugar a uma lógica mecânica, onde cada Estado busca reafirmar sua identidade, proteger seus interesses e reduzir a dependência externa. Mas isso ocorre sem romper totalmente com o sistema, que aceita essa tensão como parte de seu funcionamento. O funcionalismo ajuda a entender esse processo, mostrando como, mesmo em momentos de ruptura aparente, o objetivo maior é manter a coesão, ainda que seja uma coesão baseada em disputas, exclusões e novas formas de dominação.
Rafaela Brito do Nascimento, primeiro ano de Direito notuno
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