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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Funcionalismo e desigualdade: uma aliança ideológica conservadora

    A teoria sociológica do funcionalismo, consolidada ao longo do século XX, entende a sociedade como um sistema coeso, no qual cada instituição cumpre uma função para manter a ordem e a estabilidade. Um de seus principais teóricos, Émile Durkheim, via essas instituições como elementos indispensáveis à coesão social, e acreditava que a divisão do trabalho promovia integração e solidariedade entre os indivíduos. No entanto, essa abordagem pode levar à naturalização das desigualdades sociais, já que interpreta cada componente como funcional, ainda que suas consequências sejam excludentes ou opressoras.

    Essa lógica funcionalista tende a considerar as desigualdades como mecanismos inevitáveis, ou até mesmo úteis, para o funcionamento da sociedade. Na prática, isso significa ignorar as origens históricas e estruturais das desigualdades, tratando-as como normais ou até necessárias. A divisão do trabalho, por exemplo, é frequentemente celebrada por sua eficiência, mesmo que reforce a marginalização de grupos vulneráveis. Assim, o funcionalismo, ao focar na estabilidade, reduz a crítica da população e elimina o conflito como parte legítima da dinâmica social.

    No contexto político atual, especialmente em discursos conservadores, essa visão funcionalista aparece de forma recorrente. Narrativas que exaltam a meritocracia — como a ideia de que “quem se esforça, vence” — são sustentadas por uma compreensão de sociedade que ignora as barreiras estruturais enfrentadas por determinados grupos. Um exemplo claro é a resistência às políticas de cotas nas universidades públicas. Tais críticas alegam que as cotas ferem o mérito individual, mas desconsideram a desigualdade no acesso à educação de qualidade, reforçando uma lógica que privilegia a manutenção da “ordem” em detrimento da justiça social.

    Além disso, políticas públicas influenciadas por essa lógica tendem a priorizar a adaptação do indivíduo ao sistema, e não sua transformação. Reformas educacionais e econômicas, por exemplo, são projetadas para moldar comportamentos funcionais ao modelo vigente, sem enfrentar as raízes das injustiças sociais. Com isso, mesmo de forma involuntária, o funcionalismo pode servir como base ideológica para medidas excludentes.

    Dessa maneira, embora tenha oferecido importantes contribuições teóricas, o funcionalismo, quando aplicado de forma acrítica, torna-se um instrumento de legitimação da desigualdade. Em um cenário de polarização e busca por justiça social, é fundamental valorizar o conflito, a diversidade e a transformação como forças necessárias para o progresso social, superando a simples funcionalidade e abrindo caminho para uma sociedade mais justa.

Geisa Maria, 1º Ano - Direito (Noturno).

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