Para Milton Santos, apesar de o mundo tornar-se unificado, em virtude das atuais condições técnicas que são uma base sólida para as ações humanas mundializada, a globalização se impõe à maior parte da população como perversidade. Vive-se uma dupla violência: a tirania do dinheiro e a tirania da informação. A apropriação das técnicas de informação por alguns Estados e por algumas empresas aprofundam os processos de desigualdades. As fábulas presentes nos discursos sobre globalização querem que acreditemos na ideia de que o mundo se tornou uma aldeia global graças à possibilidade de comunicação instantânea mundial e que a contração do espaço-tempo é uma realidade para todos, já que os meios de transportes evoluíram acelerando a movimentação de pessoas e mercadorias pelo mundo.
Entretanto, observamos, na realidade, o oposto à ideia de união, solidariedade e livre circulação de pessoas tão propagados pela nova ordem mundial. Após o fim da União Soviética, acreditou-se que o capitalismo havia sido vantajoso e seria o modelo ideal para o mundo que vivíamos. Mais tarde, após 2001, George Bush implantou na consciência mundial a perseguição contra o oriente, declarando como “eixo do mal” três países: Coreia do Norte, Irã e Iraque. Isso estabeleceu no imaginário da população uma aversão ao que vinha de fora, e, especialmente, demonstrou as contradições do capitalismo como modelo democrático e pacífico. Foi possível perceber com as guerras implantadas no mundo, financiadas na maior parte do tempo pelo ocidente, uma clara determinação em assassinar o que não condiz com o projeto imperialista de potências hegemônicas de subalternizar e explorar países periféricos.
Projetos semelhantes a esse são observados hoje na Faixa de Gaza. Sob o manto do discurso de “em nome de Deus” é cometido por Israel, apadrinhado pelos Estados Unidos, um dos maiores genocídios já vistos e televisionados, tornam um povo nativo em minoria étnica dentro do próprio território, impedem a livre circulação dessas pessoas e o acesso a serviços básicos de saúde e energia, que abastece a rede de água pelas usinas de dessalinização. O que a chamada globalização mostra e evidencia pelos seus meios de comunicação é o sentimento de ódio pelo povo palestino, das ditas reações extremas de grupos como o Hamas e a aversão na busca de um território, que lhes foi prometido em Sykes Picot e nunca cumprido pela França e Grã-Bretanha.
Nesse sentido, o geógrafo citado nos convida a refletir sobre as dissonâncias entre discurso e ação do sistema, destacando como o capitalismo se comporta como uma fábula e que pouco nos aproximamos do modelo idealizado de ordem por ele criado. Humanidade, iguais oportunidades e direitos participam da “ordem” propagada, mas a verdade é que ela se impõe como instrumento para gerar guerras, causar o medo do outro, rejeitar a diversidade, o convívio e expor a brutalidade da violência cometida por aqueles que a criaram e que, portanto, o mundo não está inserido.
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