O conceito do racismo, julgar alguém com base no grupo no qual pertence, não é algo que surgiu durante o período das grandes navegações ou no contexto colonial, apesar de ter sido expandido e utilizado em larga escala. Desde a antiguidade com os romanos considerando aqueles que não falavam o latim como bárbaros incultos, a rotulação de um grupo externo como sendo inimigos ou inferiores tem servido como um instrumento político para direcionar a atenção da população para alvos de interesse das elites dominantes. Entretanto, com o advento do tráfico de africanos escravizados durante a colonização do novo mundo, o racismo passou a não ser apenas empregado, como também reforçado sistemicamente na sociedade, interiorizando em alguns casos o sentimento de inferioridade por parte dos dominados, como o livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" demonstra com o trecho do ex escravo chicoteando escravizados e discutido pelo pensador Achille Mbembe em sua obra "Crítica da Razão Negra". Nesse último livro, o filósofo defende que o capitalismo sempre necessitou do capital racial para funcionar plenamente, discurso corroborado pelo fato do sistema econômico capitalista, principalmente no Brasil, apresentava uma forte dependência do regime escravocrata, resultando no que define o supracitado sociólogo como a transformação e desumanização do negro em uma mercadoria, sendo tratado não diferente de uma moeda ou de outro produto fungível.
Enquanto atualmente o racismo não é tão explícito quanto no período colonial, ele ainda se faz presente no âmbito econômico através dos padrões de beleza para a venda de cosméticos e da demonização de grupos para a indústria armamentista. O racismo no primeiro caso é revelado ao perceber que nas propagandas de produtos de beleza, os atores possuem pele clara e cabelos lisos, assim como em filmes, sejam animações ou live action, os protagonistas também tendem a apresentarem esse arquétipo, demonstrando uma clara preferência por uma imagem que prioriza a figura europeia perante as demais e estimulando aqueles que os assistem em tentar se aproximar dessa figura idealizada por meio do consumo de produtos estéticos. No caso da indústria armamentista, o discurso do "nós contra eles" e do inimigo que constantemente está a espreita ganhou força no pós 11 de setembro e a "Guerra ao Terror", que em específico resultou no temor de que qualquer mulçumano seria um terrorista em potencial, é uma conveniente desculpa para a compra a produção de armas contra esse inimigo, tornando lucrativo o constante lembrete da existência e da suposta ameaça que esse grupo representa a fim de manter a demanda pelos armamentos. Em ambos os casos sobreditos, ainda há a internalização do racismo, com indivíduos nunca se sentindo no mesmo patamar de beleza das figuras dos filmes e propagandas, considerando sua figura natural como sendo feia, e pessoas pertencentes a grupos vilificados considerando a si próprios como uma ameaça em potencial à sociedade.
Mesmo que a forma a qual é utilizada é diferente, o capitalismo contemporâneo ainda se utiliza do racismo a fim de maximizar seus lucros às custas daqueles afetados por tal estratégia repulsiva que visa apenas o ganho monetário. Dessa forma, a afirmação de Mbembe sobre o capitalismo estar atrelado ao racismo torna-se de difícil refutação
Rafael Nascimento Feitosa, direito diurno
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