Marx e Engels entendem o mundo como uma constante dialética entre a classe dominante e as classes dominadas. Essa relação é pautada na abrupta desigualdade material entre essas duas classes, na qual a desapropriada luta por direitos enquanto a dominante busca manter a dinâmica exploratória. A isso, foi dado o nome de Luta de Classes.
Todavia, no decorrer das décadas, a
burguesia e o capitalismo se estabeleceram respectivamente como classe e política
socioeconômicas hegemônicas. Com isso, dominaram o campo das ideias – a superestrutura
– a fim de desassociar a consciência do trabalhador e, dessa forma, impedir a obtenção
de conhecimento capaz de transformar uma sociedade desigual.
É um fato que a relação entre
trabalhador e empregador, assim como todas as instituições do atual contexto político
e econômico, são efêmeras e mudam conforme as necessidades do capitalista. Além
disso, com o advento da tecnologia, da internet e da globalização, ocorreu o
agravamento dessa, o que tornou os relacionamentos sociais e de trabalho ainda menos
concretas. Não há mais uma estabilidade no trabalho – o trabalhador pode ser
demitido a todo instante.
Desse modo, o proletário passa a
viver um constate medo e insegurança. Não vê mais no emprego a ínfima possibilidade
de seguridade e de ascensão social. Com a explosão da pandemia do coronavírus em
2020 isso se tornou mais evidente: os indivíduos passaram a trabalhar de casa –
o que abalou a relação com o empregador ao passo que esse passou a cobrar maior
produtividade, fazendo com que o trabalhador trabalhasse mesmo fora do horário
de trabalho. Não somente isso, mas com essa situação, passou a ser necessária
uma menor quantidade de trabalhadores, causando uma forte onda de desemprego,
tanto técnicos quanto os responsáveis pela manutenção da empresa (sendo esses
os mais atingidos pelo desemprego). Em consequência disso, houve um grande
aumento do desemprego estrutural e conjuntural não só no Brasil, mas também em
todo o mundo. Outro ponto que vale atenção é a diminuição salarial dos
trabalhadores que, mesmo sendo obrigados a trabalhar em condições adversas,
devido a crise sanitária que o país vive, além de superarem a carga horária.
Com isso, pode-se relacionar a atual
situação do capitalismo com a sua explosão durante a Revolução Industrial: os
trabalhadores são obrigados a aceitar cargas horárias abusivas e a trabalhar em
condições nada saudáveis a fim de manter a mínima condição material para sobrevivência
e mantimento da prole. Essa obrigação é, portanto, indireta, uma vez que o não
cumprimento dessas demandas geraria a fácil demissão e substituição desses
trabalhadores, devida a existência, do que seria chamado na Inglaterra Industrial,
de Exército Industrial de Reserva, uma grande consequência do desemprego.
Desse modo, pode-se dizer que houve um forte retrocesso dos direitos
trabalhista, mesmo que alguns desses direitos ainda sejam garantidos.
Outra tendência da contemporaneidade
é o avanço de trabalhadores de aplicativos. Motoristas de Uber e entregadores de
aplicativos como Rappi, Ifood, UberEats, etc. estão completamente à margem
da legislação trabalhista. Além de serem obrigados a trabalhar nas mais
diversas condições e em cargas horárias extremas, não detêm de suporte da
legislação e se submetem a tais condições a fim de sobreviverem. Ademias, esses
ainda são extremamente explorados pelas empresas nas quais trabalham. Tomando como
exemplo o motorista de Uber: grande parte de sua renda e voltada ao aplicativo,
e outra parte voltada à manutenção do carro e pagamento de gasolina. Com isso,
apenas uma pequena parte do dinheiro adquirido em cada viagem é voltado ao
motorista.
Portanto, eu vejo como sendo impossível
entender o mundo atual a não ser por uma relação entre classes e desigualdade
intelectual e material. Além disso, acredito que negar a concepção de liquidez e
efemeridade do mundo seja uma concepção simplista e que ignora toda a atual complexidade
dos relacionamentos trabalhistas.
Vítor Salvador Garcia Lopes - 1° Ano Matutino
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