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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

MARX, O MATERIALISMO E A AUSÊNCIA DAS VIRTUDES

 O senhor Karl Marx foi contemporâneo ao capitalismo primitivo, o qual oligarquias em conluio com o governo exploravam o povo em prol de seus próprios interesses, interesses estes que eram essencialmente materiais. Marx, ao observar o ímpeto da classe dominante pela aquisição e acúmulo de riquezas materiais em seu mundo, conclui que, na verdade, todo o processo histórico se pautou conforme a busca ininterrupta por uma minoria pela riqueza e poder através da exploração de uma maioria. 

O pensador entende a sociedade não como uma espécie de tecido solidário, como argumentava Émile Durkheim, mas como uma organização estruturada conforme relações de produção, relações estas travadas pelo homem as quais são determinadas, necessárias e independentes de sua vontade enquanto indivíduo. Tais relações de produção corresponderiam a um nível de desenvolvimento das forças produtivas, o qual determinaria o movimento da História. Marx chama essa interpretação de “materialismo histórico”, que em outros modos de explicação, argumentaria que o curso da História estaria estreitamente relacionado à condução da vontade do homem determinada pela forma como o mesmo pode produzir e reproduzir sua riqueza material, sempre havendo, para tal, uma relação entre dominador e dominado, que conflitam segundo seus próprios interesses.

Essa visão é exemplificada desde o antigo Egito, certamente antes, com a escravidão do povo hebreu até muitos países da contemporaneidade, como no caso de países dos tigres asiáticos e outros em semelhança. Nesses países, a mão-de-obra é baratíssima, muitos deles reconhecendo culturalmente a ética confuciana (relacionada com noções de harmonia perseguidas pelo trabalho árduo, a popança, etc.), cuja produção de bens é voltada sequer para o mercado interno, mas para o exterior. Acontece que as grandes corporações se valem dessas condições afim de acumular cada vez mais capital, explorando a mão de obra barata desses povos, que trabalham em patamares, muitas vezes, desumanos, como ocorre, por exemplo, em Bangladesh, país onde as pessoas trabalham quase 24 horas ao dia nas indústrias. Os grandes princípios dos Direitos Humanos são violados, uma vez que a ideia de uma vida digna é algo distante da mente daqueles povos. 

E a pergunta pertinente é, vale a pena: vidas em condições de quase escravidão apenas para que alguém já rico possa desfrutar de ainda mais riqueza? Acontece que o ser humano é naturalmente mal, de modo que alguém da classe dominada, se tiver a oportunidade de ser alguém da dominante, a seria sem hesitar. É da natureza humana mergulhar-se num profundo estado de concupiscência pusilânime, isto é, numa fraqueza moral fortemente atrelada à um apego à materialidade do mundo. Agimos, muitas vezes, conforme a busca por satisfações da matéria, prazeres estes que configuram paixões viciosas, ou seja, paixões que são capazes apenas de atingir a superfície de quem nós somos, nosso corpo, passando longe dos bons prazeres, que, por sua vez, consistem naqueles que devem estar em conformidade com a parte apetitiva de nossa alma, que só podem ser atingidas por meio da ponderação das virtudes. Tudo consiste no constante conflito entre a virtude do bem e os vícios do mal. No entanto, vale lembrar, negar completamente os prazeres é abandonar a condição humana, contudo cair totalmente no poder dominador dos prazeres é aceitar um estado bestial indevido e perigoso para todos aos redores (a exemplo dos corporativistas exploradores); e é aí que entra a função das virtudes, que, conforme nos lembra o Dr. Tondinelli, “[...] é o evitar exacerbado dos excessos, mas o afastar constante da falta”. (TONDINELLI, 2013, p. 11) ¹. 

Por fim, interpreto que a origem do mal é de própria natureza humana e de seu desprovimento de virtudes metafísicas, especialmente quando se encontra em condições de poder, confirme observado na História, e acredito que este fato esteja em concomitância com o pensamento marxista sobre o materialismo no capitalismo. Concluo que homem é o maior inimigo de si mesmo, é o grande antagonista da História. Ele sempre estará disposto a desfrutar cada vez mais de prazeres materiais, como e especialmente as riquezas, ao custo da dignidade, liberdade, da vida, de todo um povo, quer esteja num capitalismo, quer esteja em qualquer outro sistema.    

Para concluir o pensamento de Karl Marx, no capitalismo de corporações, a classe dominadora corresponde à burguesia, que detém os meios de produção, enquanto a classe dominada seria o proletariado, a qual vende sua força de trabalho ao burguês.  Marx entendia que o proletariado era alienado, pois era explorado sem mesmo aperceber tal condição, ou seja, o bem produzido por suas mãos não lhe pertencia, mas sim ao patrão, que lhe devolvia apenas uma pequena parcela do valor de seu bem produzido, ao passo que o mesmo sequer se dê conta desta injustiça. Diversos seriam os vetores de alienação contrários ao proletário, como a própria ciência, a Igreja, a Família, e, para Marx, o primeiro passo para tirar o proletário dessa condição de exploração e alienação, se livrando da escravidão corporativista de busca incessante por acúmulos materiais, era fazer crítica radicais ao modo de produção e daí trabalhar no sentido de avançar no advento de uma sociedade sem classes.

¹ AQUINO, Tomás de. Onze lições sobre a virtude: Comentário ao Segundo Livro da Ética de Aristóteles. 1. ed. Campinas: Ecclesiae, 2013. 11 p.

Fernando Carvalho. Direito, 1º ano – Noturno.      


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