É
admirável, pelo motivo de propor a fraternidade, o método científico marxista
do Materialismo Histórico-Dialético, desenvolvido pelos filósofos alemães
Friedrich Engels (1.820-1.895) e Karl Marx (1.818-1.883) e abordado nas aulas
dez a doze do curso de Introdução à Sociologia. Vejamos:
Por que Materialismo?
Porque, de acordo com a teoria marxista, são as condições materiais que definem
quem um indivíduo é, ou seja, qual consciência ele terá, sendo que suas ideias
não modificam o mundo, mas, sim, são consequências do seu dia a dia e trabalho.
Percebe-se, portanto, que há uma inversão em relação à lógica idealista de
outro filósofo alemão, Friedrich Hegel (1.770-1.831), segundo a qual é a
consciência individual que transforma o mundo. O marxismo prega ser necessário
desenvolver no proletariado a consciência e o discernimento suficientes para que
comece a refletir sobre sua condição social, visto que, por muitas vezes, o
proletário sequer percebe que está sendo explorado e atuando como instrumento
do enriquecimento financeiro de outra(s) pessoa(s).
Por que Histórico?
Porque Marx e Engels recorriam a fatos históricos para sustentar o que
argumentavam; afinal, a historiografia permite afirmar que sempre houve disputa
pelo poder entre a elite social e as camadas sociais mais baixas. É justamente
devido a essa constatação que, no livro “O Manifesto Comunista” (1.848), cuja
autoria é de Marx e Engels, está escrito: “...Até os nossos dias, a história da
sociedade humana tem sido a história da luta de classes...”; de fato: na Roma
Antiga, opunham-se patrícios e plebeus; na Idade Média, nobreza e escravos eram
os antípodas; já na Idade Moderna, burgueses e proletários passaram a ser os
protagonistas do confronto. Fazendo uma analogia, nota-se que o mecanismo de
funcionamento da sociedade ao longo do tempo é similar ao de uma roda gigante
em movimento constante: sempre há segmentos sociais diametralmente opostos,
estando um no topo da roda e outro em seu ponto mais rasteiro.
Por que Dialético? Porque,
apesar de o marxismo refutar o idealismo hegeliano, também é verdade que se
utiliza de um aspecto da teoria de Hegel: a dialética do Senhor e do Escravo.
Essa dialética tem a intenção de mostrar que, apesar de o senhor mandar em seu
escravo, depende mais deste do que o contrário; logo, quem tem mais poder nessa
relação é o escravo e não o senhor, como pode parecer em um primeiro momento. A
única ressalva a ser feita é que, por escreverem em uma conjuntura capitalista,
Marx e Engels substituem os termos “senhor” e “escravo” por “burguesia” e
“proletariado”, respectivamente.
Pois
bem. Uma vez apresentada a essência da teoria marxista do Materialismo
Histórico-Dialético, torna-se necessário analisar sua aplicação nas
oportunidades até então conhecidas.
Para
isso, inicialmente é importante dizer que alguns autores liberais e, por
exemplo, o médico e psicanalista austríaco Sigmund Freud (1.856-1.939),
conhecido como o “Pai da Psicanálise”, já anteciparam que a aplicação da teoria
marxista não seria viável, criticando-a, ao argumentarem que Marx e Engels
talvez houvessem sido muito utópicos quanto a suas propostas, por pensarem que
as pessoas deixariam de lado suas divergências a fim de atingir a igualdade
plena (Comunismo). Freud escreveu que o marxismo não poderia ter sucesso, que o
mundo mais fraterno não seria formado, visto que a psique humana é competitiva,
desejosa, violenta e movida pela libido (energia relacionada à procura por
conquistas, satisfações). Portanto, deve ficar claro que, apesar de o marxismo
ser uma ideia bastante relevante nos âmbitos filosófico e sociológico, também
foi e é bastante criticado.
Além
de críticas embasadas como a de Freud, podem ser analisados estudos de caso em
que a proposta marxista foi utilizada como instrumento para conquista de poder
político, mas completamente deturpada após esse poder ser obtido:
à UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS
SOVIÉTICAS (URSS): no contexto da Guerra Fria
(1.945-1.991), a URSS protagonizou uma deterioração do marxismo (mais precisamente,
marxismo-leninismo) em muitas esferas, principalmente após 1.970, como se pode
constatar na série televisiva Chernobyl (2.019), transmitida pela plataforma de
streaming Amazon Prime, em que são
evidenciados a ineficiência do Estado soviético ao ter que lidar com o desastre
social e econômico vigente e o descaso dos governantes para com a população
soviética;
à VENEZUELA:
principalmente após 2.013, quando Nicolás Maduro (1.962-...) assumiu o poder, além
da crise econômica (iniciada em 2.014) oriunda da
desvalorização petrolífera no mercado global, o país sofre com a crise
política, evidenciada pelo crescente autoritarismo implantado por Maduro com
sua ditadura. Enquanto a população enfrentava uma inflação de quase 1.700.000%
em 2.018, Maduro foi visto em um restaurante turco bastante requintado;
à CUBA: o
país vive, em 2.021, uma gravíssima crise econômica, e, segundo o escritor
cubano Ernesto Pérez Chang, em entrevista ao portal de notícias G1: “Agora as
pessoas se deram conta de que não há um governo socialista ou comunista, mas um
governo de militares empresários que estão interessados em ganhar mais
dinheiro. Não há nada que se reverta em programas sociais verdadeiros. Há muita
decepção. O regime está em perigo e responderá com mais violência à ação dos
manifestantes.”
Posto
isso, convém rememorar o ex-presidente dos Estados Unidos da América Ronald
Reagan (1.911-2.004): “O poder concentrado sempre foi o inimigo da liberdade.”
Bem,
esses são apenas alguns dos muitos exemplos de adulteração da concepção
marxista do Materialismo Histórico-Dialético. Afinal, Marx e Engels propunham
um mundo mais fraterno, justo, em que as pessoas conseguissem trabalhar, mas
dentro de uma dinâmica que não fosse a de exploração. Portanto, a teoria
marxista é boa! Mas sua aplicação, na maioria das ocasiões, foi desvirtuada,
tornando-se autoritária e terrível, visto que, em momento algum, Marx e Engels
defendiam que o Estado deveria assumir funções totalitárias por décadas. Então,
a sensação que se tem ao ver a aplicação da teoria marxista nesses casos, após
tê-la estudado, é a mesma de quando se lê uma obra espetacular, mas cujo filme
não corresponde às expectativas, justamente por ter sido mal adaptado.
Esta
é a conclusão que fica após tudo o que foi discorrido: indubitavelmente, é
muito importante tentar conscientizar as pessoas a respeito do papel social que
estão desempenhando; agora, querer que todas alcancem um nível de altruísmo tão
elevado não parece ser tarefa fácil (e sequer possível, para Freud).
Aluno: Marcos Tadeu Gaiott Tamaoki Junior;
Curso: Direito (noturno)/2021;
Termo: Primeiro;
Turma: XXXVIII.
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