A nova reforma trabalhista, atualmente em
discussão no Congresso, foi criada visando uma flexibilização maior em certos
empregos, tendo por fim, supostamente, facilitar as contratações e combater o
desemprego crescente no país, devido ao contexto pandêmico em que o Brasil vive
atualmente. No entanto, o texto da reforma, redigido pelo deputado Christino
Áureo, gerou polêmica por apresentar medidas que, segundo juristas e
especialistas, podem fomentar uma precarização do trabalho, uma vez que
diversos direitos antes contemplados pela CLT, serão agora relaxados. Exemplo
disso são as criações de modalidades de emprego sem direito a férias e 13º
salário(o chamado Programa Nacional de Prestação de Serviço Social
Voluntário), uma outra modalidade sem direito a carteira assinada, além de
dificultar a fiscalização trabalhista, o que favoreceria o trabalho análogo a
escravidão no Brasil.
Diante do contexto
de precarização do trabalho no Brasil, implementado por meio dessa reforma em
tramitação no Congresso Nacional, cabe a análise contida no livro “A corrosão
do caráter”, escrito por Richard Sennett, no qual o autor disserta sobre a
flexibilização aparente no atual modelo capitalista, no qual vigora a
transitoriedade acima da constância. Tal constatação significa que o
capitalismo enveredou para um modelo que prioriza aqueles que sabem se adaptar
às mudanças, mesmo que essas sejam prejudiciais à sua vida. Mediante as
descrições das duas personagens, Enrico e seu filho Rico, frutos de períodos
diferentes e de classes distintas, o livro traça a mudança social e de caráter
estabelecida por essa diferenciação do modelo capitalista, já que, como
antigamente priorizava-se por empregos constantes e permanentes, notadamente o
caráter daqueles que viveram nesse período era mais pautado nos sentimentos de
confiança e lealdade, sentimentos esses muito dificilmente nutridos pelas
pessoas hodiernamente, visto que requerem um longo prazo para que sejam
construídos, algo não mais possível dentro dessa nova conjuntura social. Nesse
contexto, os empregos alteram-se o tempo todo, e a flexibilização exacerbada do
trabalho acaba levando as pessoas a se mudarem frequentemente de cidade, o que
por sua vez evidencia o enfraquecimento das relações sociais nesse novo modelo
capitalista.
A frase “Não há
longo prazo”, reiteradamente dita ao longo do livro, sintetiza perfeitamente a
maior característica das empresas e, consequentemente, dos empregados no modelo
capitalista atual, marcados por vínculos sociais frágeis, uma vez que não há
tempo suficiente para que se estabeleçam relações sociais fortes entre todos.
Essa mudança abrupta entre as gerações contidas no livro é muito bem explicada
por Karl Marx, uma vez que, segundo o sociólogo alemão, a alienação vigente na
sociedade capitalista faz com que todos se adequem às novas realidades impostas
pelo modelo econômico. Isso se dá, pois, tudo aquilo que é defendido pela
classe dominante se passa por interesse coletivo. Portanto, os interesses
particulares da burguesia, aquela que notoriamente domina os meios de produção,
age sobre todos, mesmo que contra a vontade da maioria. Devido a essa
característica intrínseca ao capitalismo, é evidente uma mudança acentuada de
caráter, pois ele é moldado segundo os interesses de uma minoria que domina a
todos, ditando os sentimentos e as ações cabíveis ao momento.
A partir da análise
concebida anteriormente, vê-se perfeitamente que a flexibilização do trabalho, a
qual poderá ser gerada pela nova reforma trabalhista, conversa tanto com o
texto de Richard Sennett, quanto com a análise materialista de Marx, uma vez que ambos os pensadores elucidam a questão da mudança social engendrada pelo modelo
econômico vigente. O texto de Sennett demonstra perfeitamente o quanto que a dita
flexibilização atua causando a precarização das condições de trabalho, visto que tanto o caráter das pessoas altera-se, assim como as relações sociais e a
qualidade de vida do empregado são prejudicadas concomitantemente. Somado a
isso, pautando-se no pensamento de Marx, nenhum desses prejuízos será sentido
sem uma análise materialista e concreta da realidade, pois tudo aquilo
defendido e promovido pela classe dominante tende a configurar-se como
interesse coletivo, mesmo que sejam ideias os quais não condizem com os desejos
da maioria. Portanto, não se pode analisar as propostas defendidas pelo governo
sem antes analisar suas consequências na realidade, sendo elas muito
prejudiciais para a classe trabalhadora na forma como a reforma se propõe
atualmente.
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