Quando Marx e Adam Smith pensam a divisão do trabalho, eles a pensam com formas fixas. Porém, ao se ler Sennet, se percebe que as sociedades do século XXI tendem a não mais estratificar essa divisão como uma forma piramidal (como o próprio Sennet descreve), mas sim como uma complexa cadeia de arquipélagos, que estão prestes a se dissolver a todo momento. Pensando isso na atualidade brasileira, se percebe que políticas públicas são feitas a favor dessa estratificação liquida (como no caso da reforma da previdência), e, além disso, que as empresas tendem cada vez mais a utilizar esse método como padrão de suas instituições. Isso se tornou um grande problema na atualidade, visto que trabalhadores possuem cada vez menos vínculos reais com seus empregadores, gerando grande insegurança a eles.
Porém, ao se pensar nas décadas de 2010 e 2020, tendo como base o pensamento de Sennet, se percebe que esses vínculos se tornaram ainda mais precários. A uberização do trabalho vem tomando conta de diversos ramos de produção. Mas qual o problema nisso? Bem, isso é uma questão deveras simples de ser entendida, porém extremamente complexa de ser resolvida. O trabalhador do mundo atual, diferente do que Sennet descreve em seu livro, possui ainda menos vinculo com seu empregador, sem nenhum tipo de contrato ou sequer conhecer uma pessoa física que represente a empresa, sendo dado a ele a responsabilidade de ser seu próprio "empresário". Isso gera uma extrema insegurança a esse operário, pois ele não possui nenhum tipo de direito, e em casos de doença ou acidente durante o seu "horário de serviço" ele mesmo deve arcar com os custos, mesmo sendo impossibilitado de trabalhar. E por que isso é algo ruim? Porque são esses trabalhadores que geram lucros exorbitantes para essas empresas que eles mal possuem vinculo, porque essas empresas se aproveitam de suas vontades ou necessidades para gerar renda. O trabalhador do mundo atual é obrigado a contratar essas empresas para prestarem o seus serviços. A empresa nada mais fez do que "alugar" seus meios tecnológicos para essas pessoas, e mesmo assim, quem sai com os maiores lucros não são os que de fato trabalham, mas sim os que alugaram um aparato tecnológico (que custa muito menos do que é cobrado desses trabalhadores) para um trabalhador que necessita de ganhar dinheiro para seu próprio sustento.
O mundo atual é o mundo onde trabalhadores precisam pagar para trabalharem. É difícil entender onde essas pessoas se encaixam em uma divisão de trabalho concreta, elas pagam pra conseguir trabalhar e não possuem patrões ou subalternos, são na verdade falsos burgueses, "donos" dos seus meios de produção, mas que na verdade são empregados de uma empresa. É uma relação bem mais complexa do que uma divisão de trabalho totalmente hierarquizada.
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