“A exigência de que abandonem as
ilusões acerca de uma condição é a exigência de que abandonem uma condição que
necessita de ilusões”. É com esse trecho da obra de Marx “Crítica da Filosofia
de Direito de Hegel” que, em síntese, o autor justifica a existência e
permanência da religião, tão enraizada nas sociedades: a condição na qual as
pessoas se encontram submetidas, tão miserável que necessitam de “ilusões” para
que se torne de certa forma suportável. Não somente, a religião ainda, funciona
como uma forma de legitimação dessa condição, uma vez que, retira a capacidade
do indivíduo de ver sua realidade tal como é, levando-o a perder-se na ilusão
de um mundo transcendente. É um remédio, um calmante, “é o ópio do povo”, e
torna o indivíduo passivo da sua condição alienante.
Analogicamente,
na sociedade moderna, pode-se afirmar que esse papel passa a ser realizado em
maior âmbito por mais dos diversos mecanismos criados e difundidos do
capitalismo. Um dos principais meios é a cunhada ‘indústria cultural’, que
chega a extremos para captar e prender a atenção do espectador, tentando o
quanto possível distrai-lo de sua realidade. Esse assunto é muito bem explorado
no documentário “Muito além do cidadão Kane”, que expõe as várias práticas de
manipulação jornalística na cobertura de fatos na mídia brasileira.
O
que ambos esses “sistemas de manipulação” fazem, efetivamente, é criar, de forma inconsciente nos indivíduos, uma
liberdade ilusória e abstrata. E aqui consiste um dos pontos de crítica de Marx
á Hegel. Sabe-se que o desenrolar da evolução histórica permitiu a
racionalização das relações fáticas de modo a "garantir" a liberdade,
assegurando-a no direito positivo. No entanto, Marx afirma que essa liberdade é
somente existente e realizável no pensamento, abstrata. Apenas se torna real e concreta se houver as condições materiais necessárias, caso contrário, permanecerá no imaginário. Ademais, a não realização efetiva dessa liberdade é fruto do entendimento de seu conceito, uma vez que a liberdade tal como conhecemos é a concepção
universalizada de apenas uma parcela da população, ou, como exposto por Marx em sua visão dicotômica e antagônica da sociedade, dos possuidores do meio de produção, parcela esta que dissemina
sua ideologia por meio dos mecanismos supracitados, a fim de manter os demais indivíduos submissos a uma sistema que não os favorece.
Frente
a esse cenário, Marx defende a emancipação do homem que deve se tornar ciente
destes mecanismos alienantes e do processo histórico que levou a construção
destes, com o propósito de eventualmente superá-los. Dessa forma, somente por esse reconhecimento, o homem será capaz de sair
do plano teórico e atingir uma possível liberdade real e concreta.
Roberta Ramirez 1º ano - Direito/Noturno
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