Recentemente,
tive a oportunidade de presenciar tão ilustre crítica tua à respeito de minha
obra. Ressaltou qual seria o motor do mundo em meu ver: o espírito das coisas,
mas abominastes tal espírito em prol da matéria. Digo-lhe não vivem separados,
sem a matéria, espírito é simplesmente ilusão, sem espírito, a matéria é
unicamente sobrevida, pois não vive, sobrevive, evolui-se cega e inconsequentemente,
podendo levar a desastres de enormidade infame. Suas críticas a meu respeito
foram também em relação ao status quo, nego veementemente, não seria, de uma
maneira até marxista de se dizer, um reacionário. Pelo contrário, minha
filosofia é toda pautada no movimento, na evolução. De maneira similar, não
seria minha filosofia, então, criada para a manutenção social, concordo que
dela pode ter disseminado ideologias reacionárias e conservadoras, mas, ainda,
de uma releitura dela surgiu vossa teoria científica do marxismo. Vossa é a
síntese da qual minha teoria foi a tese e o reacionarismo liberal foi antítese,
mas, não me julgais, não mate o espírito das coisas.
Em defesa deles, dos espíritos, digo que sem eles seria
tudo igual, da mesma cor com mesma tonalidade. Como disse, não pode o espírito
viver sem a matéria, mas a recíproca não é verdadeira, porém, é duro pensar em
um mundo de sobrevivência, um mundo em que a igualdade é único foco, e que a
liberdade e diversidade foram anuladas por esta. Sim, refiro-me ao teu
comunismo, um mundo sem os espíritos, o fim da História, a humanidade estagnada
num porvir ideal que nunca será alcançado. Ao que me refiro? Bem, a História é
dialética, e a dialética infinita, contudo, se se destrói os contrastes
culturais, a possibilidade de mudança, o que fere, em verdade, é a lei dos
opostos e com ela a antítese. A sociedade estagnar-se-ia em uma eterna verdade
imutável, e não me refiro à religião alguma, e sim à tua contradição. Logo, a
função dos espíritos é garantir movimento ao mundo.
Não me compreendas mal, não estou aqui a fazer uma defesa
do reacionarismo, mostro-te, e a quem ler esta carta, uma terceira via. Sim,
para além da filosofia hegeliana e do marxismo, a síntese entre os dois. Tua
teoria fez-me, de fato, repensar a minha, não havia eu refletido acerca dos
efeitos da matéria no espírito e na sociedade. Não são uma coisa só, mas duas
que se complementam. Contudo, como já dito, separadas levam ao desastre,
façamos simulações: Um mundo levado apenas pelos espíritos das coisas é este
presente na sua crítica, realmente, o mundo burguês liberal, mas somente pela
matéria, como já demonstrado, levaria à anulação da História e, por
consequente, da humanidade como condição. Mas, se juntas andarem, matéria e
espírito, a realidade influiria de forma decisiva nas ideias (espíritos) assim
como as ideias sobre a realidade, alcançando uma sociedade benéfica e
construtiva, chamaram no século XXI, tal sociedade, de Estado Democrático de
Direito.
Espero que me
compreenda.
Atenciosamente,
Georg F. W. Hegel
Escrita por: Vinícius Henrique de Oliveira Borges.
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