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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Quem será o vagabundo?

Vai trabalhar, vagabundo
Vai trabalhar, criatura
Deus permite a todo mundo
Uma loucura
Passa o domingo em familia
Segunda-feira beleza
Embarca com alegria
Na correnteza

Prepara o teu documento
Carimba o teu coração
Não perde nem um momento
Perde a razão
Pode esquecer a mulata
Pode esquecer o bilhar
Pode apertar a gravata
Vai te enforcar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar
Vê se não dorme no ponto
Reúne as economias
Perde os três contos no conto
Da loteria
Passa o domingo no mangue
Segunda-feira vazia
Ganha no banco de sangue
Pra mais um dia
Cuidado com o viaduto
Cuidado com o avião
Não perde mais um minuto
Perde a questão
Tenta pensar no futuro
No escuro tenta pensar
Vai renovar teu seguro
Vai caducar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar
Passa o domingo sozinho
Segunda-feira a desgraça
Sem pai nem mãe, sem vizinho
Em plena praça
Vai terminar moribundo
Com um pouco de paciência
No fim da fila do fundo
Da previdência
Parte tranquilo, ó irmão
Descansa na paz de Deus
Deixaste casa e pensão
Só para os teus
A criançada chorando
Tua mulher vai suar
Pra botar outro malandro
No teu lugar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai te enforcar
Vai caducar
Vai trabalhar
Vai trabalhar
Vai trabalhar

Em “Vai trabalhar vagabundo”, Chico Buarque, brilhantemente, retrata a cotidiana luta de classes que, para Engels e Marx, resumiria a história de todas as sociedades que já existiram, expondo a eterna oposição entre o opressor e o oprimido.
Segundo os autores, esse incessante conflito teria, de maneira sucessiva, no decorrer dos anos, findado ou na ruína das classes ou na Revolução. Fatores humanos de relevância -espiritualismo, política e ciência, por exemplo – seriam os responsáveis por essa “ciclagem histórica”, na qual dominantes e dominados invertem seus papeis e praticam o que antes condenavam, concretizando a perpétua rinha por poder.

Dessa forma, apesar das incertezas do futuro, é notório que nessas reviravoltas da história só uma questão realmente importa: quem será o vagabundo a ter que trabalhar?

Gabriel Chiusoli Ruscito - 1° ano, Direito noturno 

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