Como um jovem iniciado nas idéias
marxistas desde muito cedo, aderi por um período da minha vida o mantra de que
o marxismo, o materialismo histórico e a luta de classes explica tudo. Hoje
acredito que tal mantra é de uma vaidade ideológica muito grande, pois diversos
fenômenos não tem no seu fio condutor principal os motivos que o marxismo
clássico tradicionalmente explicaria. Um exemplo muito claro disso é a Bill
Abeerdeen que teve uma explicação de influência marxista que se mostrou falha
com o tempo, pois a abolição da escravidão no novo mundo não iria desenvolver
um mercado consumidor que interessasse as ilhas britânicas, sendo que a posição
da América na divisão internacional do trabalho era benéfica para o
desenvolvimento industrial da Inglaterra. Logo uma explicação de cunho
weberiano se mostrou muito mais coerente, pois o parlamento inglês era
fortemente influenciado pelos quakers, grupo adepto de uma ética protestante que
condenava a escravidão.
Todavia, por mais que o marxismo não seja a chave suprema para a compreensão do universo, é possível entender boa parte da história e de toda conjuntura atual que vivemos a partir dele, sendo assim uma das melhores lentes para ler o mundo, pois por trás de uma grande maioria dos conflitos e decisões que conduziram e conduzem a história, os sujeitos são as classes e o objeto são os recursos materiais e seus meios de produção.
No ano passado o Brasil colocou em seus livros de história mais um fato em negrito, uma presidente democraticamente eleita foi deposta de seu cargo a partir de um jogo que envolvia nitidamente a disputa de classes pelo controle político dos recursos financeiros e das forças produtivas. Pois depois de 13 anos de um governo de conciliação de classes, colocado como impossível por Marx, foi revelada a antítese natural das mesmas, com a burguesia assumindo o poder e impondo pautas que a favorece, revestidas de seus antigos preceitos ideológicos, como é o caso da reforma trabalhista que da uma força enorme a acordo entre burguês e proletário, ignorando a falta de isonomia dessa negociação.
Outro fato que podemos observar a partir da lente marxista é de como as classes detentoras do capital, a fim de aumentar seus rendimentos, vêm se apropriando de pautas que foram angariadas pelo movimento de esquerda no seu desenvolvimento histórico. A partir de novos conceitos publicitários minorias tradicionalmente oprimidas pelas instituições capitalistas são superficialmente reconhecidas a fim de se mascarar as contradições que tal sistema de produção apresenta. O negro que agora tem uma linha completa de cosméticos ao seu dispor continua morrendo nas periferias na mão do Estado capitalista.
O capitalismo não é o mesmo da época de Marx e Engels, as dinâmicas de multiplicação do capital se alteraram e intensificaram, e fatores alheios as perspectivas marxianas são importantes para a compreensão da sociedade, porém seu legado é indispensável para compreender o passado, o presente e o futuro.
Eduardo Augusto de Moura Souza
1° Direito Noturno
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