"A
injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os
dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só
a força os garante.
Tudo
ficará como está.
Nenhuma
voz se levanta além da voz dos dominadores.
No
mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora
acaba de começar:
E
entre os oprimidos muitos dizem:
Não
se realizará jamais o que queremos!
O
que ainda vive não diga: jamais!
O
seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando
os dominadores falarem
falarão
também os dominados.
Quem
se atreve a dizer: jamais?
De
quem depende a continuação desse domínio?
De
quem depende a sua destruição?
Igualmente
de nós.
Os
caídos que se levantem!
Os
que estão perdidos que lutem!
Quem
reconhece a situação como pode calar-se?
Os
vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o
"hoje" nascerá do "jamais". "
Elogio
da Dialética – Bertolt Brecht
Inspiração para versar sobre Marx?
Brecht regado de café torna-se suficiente para entender a intensidade de suas
obras. Há, praticamente, 3 anos, quando escolhi o curso de Direito como meta
para minha carreira profissional e para a vida, indignei-me sobre a maior
contradição que já havia decidido. Afinal, como combater a opressão formando-me
pelo maior instrumento de manutenção do sistema já criado?!
Hodiernamente, observei alguns
processos ocorridos no que diz respeito a modificações na legislação brasileira
embasadas por lutas sociais e movimentos. A atual realidade do trabalhador
doméstico - o qual é fruto dos resquícios da histórica do país moldada pela
escravidão e pela exploração - expressa-se, dialeticamente, como síntese maior
de uma hipermetropia histórica em que seus direitos, a partir do momento em que
foram positivados pela “PEC DAS DOMÉSTICAS” (LEI COMPLEMENTAR Nº 150, DE 1º DE
JUNHO DE 2015), revolucionaram as condições laborais predatórias que antes
existiam, muitas vezes, maquiadas. Ou seja, o Direito Positivado, nesse caso,
foi fundamental para a garantia básica da ontologia do trabalho dessa classe. E
é, justamente, nesse processo dialético de exploração (tese) X resistência
(antítese), assim como resgatou Brecht nesse poema séculos atrás, que observei a
possibilidade de modificação das condições materiais de existência pelo
Direito.
Por esse prisma, hoje, ao refletir
sobre o que falar a despeito de Marx perante tudo que urge na realidade,
voltei-me a mim e a minha escolha. Diante disso, perdoe-me o Celso,
jurisconsulto romano, afinal, nem sempre "Ius est ars boni et aequi"
(“O Direito é a arte do bom e do justo”) e muito menos como pensava, apenas,
máquina de sedimentação de interesses “burgueses”. Chego, por fim, a conclusão
de que ele é o próprio resultado da dialética. Logo, pode ser instrumento de
transformação da realidade. Assim espero.
Débora Amorim de Paula – 1º
Direito DIURNO
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