“O muro moderno e a busca de
identidade“
Em um breve
horizonte de atualidade, cada vez mais é possível evidenciar o judiciário brasileiro
debatendo e deliberando a respeito de situações polêmicas e contraditórias,
estabelecendo políticas públicas ou emitindo escolhas morais, sobre temas convenientemente
ignoradas ou não, pela apreciação da casa legislativa.
O
protagonismo do judiciário, no brasil, se apresenta evidentemente em um
contexto de crise de perspectiva política ideológica e representativa, na qual
o judiciário se exterioriza como o “muro das lamentações do mundo moderno”,
sentenciando eventualmente de forma progressista à contramajoritariedade,
salientando como no texto de barroso, a atuação balizada pela simples tentativa
de materialidade do texto constitucional que embora previsto não se apresenta
positivado no brasil.
Exemplos
dessa atuação da judicialização aliada ao ativismo judicial, que seria a busca
de “extrair o máximo das potencialidades do texto constitucional sem contudo
invadir o campo da criação livre do Direito”, revelam-se propriamente a partir
do veredito as suprema corte brasileira a respeito da ADPF 132 e da ADI 4277,
na qual a última instância da justiça brasileira, exteriorizando sua atribuição
de guardiã da constituição, estabelece a obrigatoriedade do reconhecimento da
união homoafetiva como entidade familiar, desde que apresentassem os mesmos
requisitos necessários para o reconhecimento de uma união entre homem e mulher,
estendendo aos casais homoafetivos, dessa forma, ao menos no plano ideal, os
mesmos direitos e deveres de uma união estável, que os fora negado até então.
Ainda mais
recente na notoriedade da judicialização da suprema corte, na garantia de
direitos fundamentais constitucionais, apresenta-se a declaração da ministra
Carmen Lúcia em um contexto de necessidade de amparo aos direitos constitucionais
no âmbito da saúde, no qual é dito “Estamos aqui para tornar efetivo o que a
constituição nos garante. A dor tem pressa. Eu lido com o humano, eu não lido
com o cofre”, declarando a atuação focada da última instância judicial em
algumas ações progressistas na efetivação de direitos constitucionalmente
previstos e nem sempre efetivados.
Entretanto,
é necessário abordar a possibilidade do ativismo judicial e da judicialização, por
meio da suprema corte estarem sobrepondo aos poderes legislativo e executivos,
os quais são munidos de legitimidade por meio do voto popular, o que não
ocorreria com o judiciário. Todavia, tal justificativa se mostra inconsistente,
à medida que se demonstra que a escolha dos juízes provem, no caso da suprema
corte brasileira, de escolha daqueles que possuem aval popular, ou seja, do
presidente da república. Se exime, de certa forma, o judiciário de eventual
atropelamento dos outros poderes, também, ao passo que constantemente
evidenciado por Barroso, o poder judiciário se destina a atribuir vereditos de
maneira predominantemente “técnica e imparcial”, ainda que os magistrados não
sejam apenas uma peça mecânica, desprovidos de ideologias e concepções morais
próprias, mas que diferentemente das outras casas que podem valer-se de voto de
cunho essencialmente político, o judiciário deve estar de acordo com as normas
constitucionais e da estrutura jurídica brasileira.
Por fim, há
de se considerar a necessidade de “provocação” do acionamento do judiciário,
que não pura e simplesmente atua a seu bel prazer, mas é requerido por meio de
adpf, adin, e outros instrumentos jurídicos no papel de “velar pelo jogo
democrático”. Dessa forma, a certa homogeneidade jurídica do parecer dos 10
ministros que votaram no caso da ADPF 132 e da ADI 4277, evidenciam a
necessidade eventual, ainda que se recupere a longo prazo a credibilidade imprescindível
das casas legislativa e executiva que atuam essencialmente sob o jugo popular,
da atuação do âmbito judiciário na análise de constitucionalidade e
estabelecimento de jurisprudência que deverá ser levada em consideração em
decisões análogas posteriormente, em casos tão polêmicos quanto aqueles que a
suprema corte atua proativamente na atribuição de direitos previstos nos textos
normativos.
Estariamos criando, entretanto, "herois" de estimação?
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Rafael Varollo Perlati 1ºAno Noturno
Estariamos criando, entretanto, "herois" de estimação?
Rafael Varollo Perlati 1ºAno Noturno
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