“São bárbaros incapazes de
reconhecer a própria inferioridade, e morrem de inveja da civilização.”.
Tal ponto de vista, defendido de forma incisiva pelo colunista da revista Veja,
Rodrigo Constantino, em relação aos jovens participantes dos chamados “rolezinhos”,
escancara uma forma de pensamento recorrente entre os grupos constituintes da
elite financeira e intelectual brasileira. Esses grupos são adeptos, em sua
maioria, a diversos preceitos positivistas, como forma de justificarem a
existência de uma ordem, que, segundo eles, é necessária ao progresso da sociedade,
ou, melhor dizendo, ao sucesso de seus próprios interesses econômicos e
materiais.
Diante dessa realidade, é imprescindível
que seja feita uma análise sobre as circunstâncias socioeconômicas que levaram
ao surgimento de uma nova modalidade de manifestação popular, os chamados “rolezinhos”.
Tais fenômenos sociais podem ser compreendidos como encontros de dezenas e, até
mesmo, de centenas de jovens em lugares públicos (parques, praças e shoppings).
Entretanto, tais passeios simultâneos e
caracterizados pelo grande contingente de adeptos, a maioria jovens “filhos” da
nova classe média brasileira, tem sido marcados por situações de medo, correria,
vandalismo, delitos e de acusações referentes à perturbação da ordem pública,
situações essas que levaram os “rolezinhos” ao ponto central
de decisões judiciais e de interpretações variadas da opinião pública, dos
veículos de comunicação e dos estudiosos das ciências sociais.
Então, referente a todas essas situações, é
válido inferir que os “rolezinhos” não são apenas encontros, mas também uma
forma de protesto, inconsciente e errada quanto aos seus meios de realização,
de jovens que vivenciam um processo de ascensão econômica, sem, no entanto, contarem
com aparatos que lhes garantam a fuga de estereótipos e determinismos impostos
pelas elites, além de se encontrarem desprovidos de ações governamentais que
visem oferecer melhorias relacionadas à educação, cultura e lazer.
Dessa
forma, os grupos mais abastados da sociedade, que, como já dito, são claramente
influenciados por princípios positivistas, valem-se do inconformismo para
tentarem restabelecer a ordem social até então vigente, de acordo com a qual, as
possibilidades de lazer das camadas mais populares devem se restringir a
lugares fora da vista das classes superiores economicamente.
Para concluir, é importante salientar que
independe das circunstâncias que levaram à realização dos chamados “rolezinhos”,
atos criminosos e de perturbação da ordem pública devem ser coibidos em
qualquer lugar, independente da circunstância ou da classe social.
Infelizmente, existem grupos irresponsáveis e/ou extremistas que se infiltram
em movimentos essencialmente pacíficos, como os “rolezinhos”, para a execução
de atos ilícitos, o que prejudica toda e qualquer possibilidade de mudança e
debate sobre a triste realidade histórica de desigualdade no Brasil.
Frederico Henrique Ramos - Turma XXXI - Direito Noturno
Frederico Henrique Ramos - Turma XXXI - Direito Noturno
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