Tomando por base as considerações positivistas, a violação
do estado de ordem significa efetivo recuo do progresso social, que deve ocorrer
de forma gradativa. Neste sentido, qualquer manifestação pública deve ser
evitada, posto que atenta contra a funcionalidade sistemática e coesa da sociedade.
É descabido, pois, ignorar manifestações de sublevação popular enquanto
instrumento de progresso.
Os denominados “rolezinhos” nada mais são que o grito
de jovens que nunca foram o foco do sistema, muitas vezes privados do conforto
e de bens volúveis, mas tão valorizados financeiro e socialmente. Vivemos em um
capitalismo de classes, diferenciadas entre privilegiadas ou não pelo sistema
econômico vigente. Não em uma sociedade estamental indiana antiga, na qual determinada “casta”
é privada de frequentar os mesmos espaços que a outra. A decisão do juiz de
direito Alberto Gibin Villela, contrária aos “rolezinhos”, afirma não só a questão
positivista de preterir o movimento social em prol do mantimento da ordem, como
a negação do direito de ir e vir e do espaço comum a qualquer cidadão. Se o
pretexto é algazarra iminente, que sejam tomadas medidas de segurança. Não
medidas segregacionistas, baseada no local de origem dos indivíduos e no seu
poder aquisitivo.
Ainda, relacionar tais movimentos à criminalidade é suster
a discriminação de outrora, associando os marginalizados pela dinâmica
capitalista, naturalmente competitiva e excludente, à imagem de malfeitores e
baderneiros. A mesma rede social que deu força ao movimento, todavia, hoje o
agride e banaliza, tendo em vista a enquete realizada pela versão online da
revista Carta Capital, na qual 68% dos internautas mostraram-se favoráveis a
medidas judiciais de interdição possessória em casos como esses. Ademais, o
preconceito disseminado nos próprios veículos de organização do movimento, por
meio de piadas infames, atesta a ignorância de parte da sociedade no que diz
respeito a seus adeptos, conforme pode ser observado nas imagens abaixo:
Impor
distinção, limitar quem deve entrar ou não em determinado espaço, naturalmente
voltado ao grande público, é ferir os princípios de igualdade e liberdade, bases
do Estado democrático. É ilegítimo, pois, abrir mão desses valores em prol do
mantimento Ordem, já que a própria Ordem mostra-se ineficaz, à medida que
desfavorece e marginaliza boa parcela da sociedade.
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