Na obra cinematográfica Tempos
Modernos, de Charlie Chaplin, um trabalhador é submetido a condições limítrofes
de existência e de sobrevivência em uma fábrica. A coisificação desse indivíduo,
oprimido pela produtividade, é representada e criticada pelas cenas nas quais
ele é esmagado pelas engrenagens da indústria e pelos seus colapsos nervosos. Essa
realidade pós Revolução Industrial é tanto causa quanto consequência da
submissão dos indivíduos aos sistemas que os envolvem, com suas particularidades
e ressalvas, desde o Antigo Regime: submissão aos senhores, aos monarcas, ao capital. Em concomitância, à Ciência foi atribuído cada
vez mais o caráter mecanicista influenciado pelo método cartesiano de pesquisa:
a maneira de se produzir conhecimento foi sistematizada com a análise separada de
fenômenos para a posterior compreensão do todo. Contudo, essa dinâmica, herdada
do século XVII, tornou-se obsoleta e incapaz de explicar muitos dos problemas
estudados: não basta ter controle sobre os processos, mas é necessário
compreendê-los. Covid-19; crises nos sistemas de saúde; adoção de políticas econômicas neoliberais; histeria e desinformação. Esses são exemplos de como é necessária a adoção de modelos sistêmicos a fim da compreensão do todo para a resolução de problemas que nos cercam de maneira inteligente e eficaz.
Sob outro ponto de vista, é possível analisar que da mesma maneira como os Estados têm controle sobre sua economia e sobre os seus sistemas produtivos, têm também sobre sua produção científica, vide o incentivo ao desenvolvimento de vacinas em momentos de epidemia que possam comprometer a produtividade ou ao desenvolvimento bélico dos países em situações de guerra, a exemplo dos infelizmente já conhecidos armamentos nucleares. Isso faz com que, assim como as máquinas industriais foram as responsáveis pela equalização dos operários em condições miseráveis em prol do enriquecimento da classe burguesa, a Ciência torne-se um novo fator de coisificação do homem e da transformação dele em mais do que uma máquina produtiva: em uma potencial máquina de destruição. Destarte, nota-se como os Tempos Modernos são, na verdade, a repaginação dos Antigos com o advento das máquinas e da tecnologia: a arbitrariedade foi transferida dos soberanos aos saberes científicos; é de grande interesse o desenvolvimento de novas tecnologias porque a aplicação delas nos sistemas produtivos faz das arbitrariedades com o povo não inexistentes, mas veladas e impessoais, o que garante a manutenção dos poderes e dos privilégios das elites.