A reafirmação das ciências, após o auge do Renascimento, em deferimento das estruturas teocêntricas revolucionou os princípios, significando a vitória do racionalismo e do desenvolvimento empírico sobre as dogmáticas medievais cristãs, o que trouxe diversas inovações para o homem moderno. Desde então, o modelo do método cartesiano evidenciou-se como a máxima científica ao buscar conhecimento consistente no ceticismo metodológico, através da fragmentação do objeto de estudo em etapas. Entretanto, apesar de plenamente adotado nos setores acadêmicos, essa teoria também é alvo de grandes críticas haja vista o desmembramento das áreas estudadas, dificultando conexões pertinentes.
O filme “Ponto de Mutação” (1990) – adaptação da obra literária de Fritjof Capra – ilustra por meio de seus três personagens principais (a física Sonia, o político Jack e poeta Thomas) um paradigma questionador exatamente em relação a essa posição segmentária de Descartes, por exemplo. Segundo o autor, tal visão moderna já não compactua com a concepção globalizada do mundo contemporâneo, uma vez que tudo está em constante integração. Esse descontentamento se metaforiza na comparação dada pela cientista Sonia, entre os políticos e o ato mecanicista de análise cartesiana para a compreensão das coisas, ela afirma que se faz necessário uma expansão de olhares para modelos holísticos, fugindo dos processos porque estes são controlados, porém, nem sempre, não são entendidos.
Em um cenário hodierno cada vez mais conectado, do mesmo modo, insere-se a didática do franco-algeriano Jacques Derrida, o qual foi um renomado crítico do racionalismo dos últimos tempos e o criador do método chamado de desconstrução. Sob a égide do referido termo de Derrida, encontram-se questões filosóficas, literárias, políticas e intelectuais que proporcionaram um choque no pensamento metafísico ocidental, já que este firmava-se, muitas vezes, nas relações binárias para estabelecer uma hierarquia ou supremacia de um termo sobre o outro, geralmente selecionado através do “filtro cartesiano”. Consequentemente, nota-se uma conexão dessa vertente com a produção cinematográfica que pode ser sintetizada pela expressão utilizada por Sonia: ecologia de saberes – remetendo novamente a interdisciplinaridade dos diversos ramos do saber e sua importância dentro de um sistema conjunto.
Torna-se explícito, portanto, a relevância dos aspectos e questões levantadas no filme de Capra, tendo em vista sua contestação a um dos métodos mais tradicionais utilizados pela ciência na evolução do pensamento intelectual nos últimos quatro séculos, indagando-os eticamente. Sendo assim, têm-se a modificação das formas clássicas de busca e relação com o saber, acompanhando as transformações tecnológicas observadas, tal qual disserta Derrida, rompendo com a epistemologia do método cartesiano de “fazer ou compreender ciência”. Dessa maneira, poderá se obter, realmente, o intuito e o ápice de um ponto de mutação consistente e que compactue para o crescimento da ciência contemporânea, transfigurando-a à altura de um saber ecológico.
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