No início do filme “Ponto de Mutação” uma guia explica aos turistas que o cemitério da cidade se encontra no meio dela, por entre as casas, pois, “a morte faz parte da vida". Durante a longa caminhada dos três protagonistas, tal frase, ainda que de modo sútil, permeia diversos dos principais temas discutidos, principalmente no que tange a relação homem-natureza.
Em uma primeira perspectiva, grande parte da dissociação feita pelo homem entre ele e os outros seres em geral vem da necessidade da compensar a sua mortalidade. Os diversos avanços da ciência proporcionaram aos seres humanos um senso de que somos superiores às demais formas de vida da Terra, o que torna a ideia de sermos tão mortais quanto tudo a nossa volta, algo revoltante. Graças à ciência podemos curar nossas doenças, explorar o espaço e o oceano, nos locomovermos com uma rapidez nunca antes pensada e, até mesmo, criar inteligências artificiais, o que passa a sensação de sermos onipotentes e também, desse modo, a convicção de que a natureza está aqui para nos servir. No entanto, também não passa despercebido que, assim como tudo vivo na Terra, nós também deixaremos de existir, porém, com toda essa nossa concepção egocêntrica de que somos sim mais avançados, lidar com o fato inevitável de que a morte faz parte da vida tornou-se algo insultante.
Em uma análise mais aprofundada, outro motivo pelo qual a ciência contribuiu para a criação de um olhar mecanicistas e exploracionista das coisas foi a criação de armas de destruição em massa. Durante o filme, o poeta diz que a culpa de ninguém se preocupar com o planeta é dos cientistas, pois foram eles que inventaram a bomba atômica e, por isso, não fazia mais sentido cuidar de um planeta que poderia deixar de existir a qualquer segundo. Se vivemos em um planeta em que não só, em nossa concepção, existe para nos servir, mas também pode acabar a qualquer segundo, cuidar do mesmo deixa de fazer sentido, tal fato pode ser facilmente observado na insistência em um modelo de consumo exagerado que diminui o tempo de vida do planeta. Nesse caso, há uma banalização da morte do planeta, pois se esta é inevitável, acelera-la não seria um problema, pois o fim é o mesmo, o sentido da frase “a morte faz parte da vida” é, assim, levado ao seu extremo.
Isabelle Carrijo Mouammar - Direito Matutino - 1° ano
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