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segunda-feira, 16 de março de 2020

Ciência enquanto dicotomia

Interiorizar o mundo é dar um passo ao desconhecido. Recolher impressões, nutri-las de pensamentos e então gradualmente construir uma visão única e redescoberta. Tudo parte de si e retorna ao mesmo ponto. É necessário visão quase inconclusiva e a certeza de que sentir é mais do que analisar. Encontro invariavelmente esse mundo e o contato é assustador, pois o tenho vivido eu mesmo, na verdade incorpórea e na busca sem fim.
A racionalidade é um tênue véu sobre a humanidade. A ciência é a tentativa de alcançar uma verdade e ultrapassá-la. Ciência inspira controle. Seu fim último é a submissão. Nos meus estudos físicos esgoto minha paixão. Quero controlar as ondas e os resultados experimentais. Quero achar o que busco. Mas nem dos resultados estou certo, esses podem ser usados diferentemente e para fins além de minha vontade. A ciência é eterna dicotomia, justamente por ser um fruto humano prático que serve a um propósito. Em um mundo tão confuso, o que é de fato a dissimulação? Assim é que muitas vezes a importância de algo tão grandioso é apenas material. Eu mesmo lido com alguns problemas de financiamento, e se alguém conseguir dar ao meu trabalho um teor rentável, terá maior êxito. Ah, a tão mundana ciência.
Capra alcançou áreas assustadoramente desconhecidas em mim. Fundou-me enquanto cientista e deu bases à minha pesquisa. Foi ele a mudança natural, o ponto de mutação para que me inspirasse a buscar fora de mim – uma verdade ao menos? Ainda não descobri. A física é construção a partir de abstrações e do encontro de perspectivas distintas. Questiono as bases que servem de apoio à apreensão da realidade. Sinto-as, mas explicá-las parece impossível. Como dar regra ao ilimitável? Há verdades de que todos sabem inconscientemente. O papel da ciência seria explicar o desconhecido, tanto na ruptura entre homem e natureza, quanto nas suas mudanças internas. O pensamento complexo de contextualizar, entender o todo, os sistemas em funcionamento. As peças agem sobre o todo e isso é recíproco. O conhecer vem evoluindo aos poucos. Capra inspirou a minha sistematização.
Mas sempre me desconheço. Estou inserido em contextos maiores, assim como uma simples árvore no seu ecossistema. Há na verdade grandes problemas a resolver, axiomas que aguardam uma conclusão, enquanto outros estão distantes demais. Cada mínimo passo é necessário, mas que antes se definam com prudência os destinos e os meios para alcançá-los. No mais, como uma discussão tão complexa, é certa a inconclusão.
A ciência deve impulsionar-se por ela, crescer alimentando-se da curiosidade e pautando-se na ética.

Lucas Rodrigues Moreira - Direito Matutino

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