No filme "O ponto de mutação", um dos principais diálogos entre os protagonistas envolve o erro de adotar um pensamento mecanicista em relação ao mundo na atualidade. Embora muito importante para o desenvolvimento do conhecimento em tempos remotos, marcados pelo domínio e controle da Igreja no campo científico, a adoção de concepções cartesianas que não encontram limites dentro da ciência levou a consequências catastróficas: temos, como exemplo, as duas Grandes Guerras, em especial a última delas, a qual foi encerrada pelo aniquilamento em massa de indivíduos por meio de duas bombas atômicas. Nesse cenário, o poema "A máquina do mundo" de Carlos Drummond de Andrade acaba representando os sentimentos de resignação e decepção quanto a essa ciência que, embora augusta, mostra-se incontrolável e indiferente em relação ao homem e à natureza: "(...) a máquina do mundo se entreabriu/ para quem de a romper já se esquivava/ e só de o ter pensado se carpia./ Abriu-se majestosa e circunspecta,/ sem emitir um som que fosse impuro/ nem um clarão maior que o tolerável/ (...) assim me disse, (...)/ olha, repara, ausculta: essa riqueza/ sobrante a toda pérola, essa ciência/ sublime e formidável, mas hermética (...)".
Não obstante, o mecanicismo da concepção cartesiana de mundo não se apoderou somente da ciência como atividade do conhecimento e de exploração do natural, sendo associado também ao capitalismo desenfreado, o qual é guiado pela lógica do lucro. Consequentemente, a produtividade e o consumo atual nas mais variadas sociedades é estabelecido em detrimento da conservação do meio ambiente, o qual passa a ser encarado com indiferença (numa das passagens do filme, há um grupo que acaba jogando lixo no chão).
A partir desse contexto de total depravação do saber científico, que atinge os indivíduos e a natureza, é que o pensamento ecológico de Sandra obtém significação. Dessa forma, ao invés de uma "estranha ordem geométrica de tudo" (ainda citando o poema drummondiano) ser aplicada cegamente, é necessário adotar uma ciência que analisa a natureza e o homem de maneira orgânica, não mais os dividindo em áreas do conhecimento que não estabelecem uma unidade entre si, e que se vale da conservação do ambiente, a despeito do descaso em relação ao mesmo.
Gustavo de Oliveira Baptistini Pestana - 1º ano Direito - Matutino
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