Ascenderam-se as luzes, holofotes imensos iluminando o centro
da arena. O gordo juiz subiu ao palco, a multidão ao redor, suada, delirava.
Ele elevou suas mãos requisitando o silencio, e aos poucos a plateia se
aquietou, apenas ficando os murmúrios. De meu lado esquerdo, campeão de pesos
leves, o criolo Pinheiros. Fizeram-se alguns aplausos medíocres. De meu lado
direito, campeão de pesos pesados, Pedro Milico. Ao êxtase os espectadores
quase que em uníssono foram. Obviamente que excelentíssimo juiz omitiu certas
importantes informações que se fazem necessárias. Pinheirinhos era um negro
mirrado e fodido, lutando pelo seu direito de lutar, o posto do que se
configurava a sua frente, um sujeito brutaz e boçal desvinculado de vontade
própria, subordinado. Alguns mínimos
bradavam da injustiça da luta assistindo o pobre rapaz, enquanto a sua maioria
assistia ao duelo, boquiabertos de excitação. A maldita imprensa jorrava
fleches sobre o espetáculo, noticiando, arquivando e reproduzido. Um murro e
dois dentes do negro voam pelo ar, assim como uma boa quantidade de sangue.
Bambeia, mas não desiste. Hasta la Victoria siempre, recardava seus miolos. Não
baixa mais a guarda e parte pra cima. A derrota iminente se aproximava. No
quarto round o gordo juiz com a barba mal feita interrompe o massacre. A
Federação Nacional de Luta estava presente como sempre para mediar à injustiça,
em seus ternos, dois carenas de óculos escuros visualizavam aquilo com um irônico
sorriso estampado em suas caras. Em movimento complementar e interligado elevam
ambos os respectivos braços direitos, punho cerrado com o polegar saliente na
horizontal. Abaixam-no e o jovem é executado com um majestoso golpe incordial.
Túlio Boso Fernandes dos Santos
Direito diurno -XXXI
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