Carta ao gênio maligno.
Meu caro, é com grande respaldo que lhe ordeno que pare
imediatamente de me enganar. Suas
falácias tem sustentado o obscurantismo nebuloso ao qual minha mente assenta e
tens me privado à verdade de fato.
Quero lhe advertir que tenho tentado desenvolver um caminho
metodológico em busca da realidade. E quando o fizer, estarás acabado! Este
será o teu fim! Infelizmente, devo admitir que ainda não me sucedera bem diante de tal
empreitada, já que no presente momento tenho lapsos de dúvida se verso essas
palavras de fato ou se estou sonhando que verso as palavras. Mas tudo parece
tão real... Sinto a pena nos meus dedos,
posso pegar o pote de tinta e sentir a textura áspera do papel... Por tais
motivos, e muito a contra gosto, devo lhe parabenizar os esforços. De fato ninguém
nunca aproximardes sobremaneira os mundos ilusórios e o real, como o fazes tu;
se é que este existe quaisquer mundos real ou imaginário...
Se estiver sonhando agora, amanha acordarei e saberei de
tudo! Mas a dúvida prevalecerá na minha mente. Gênio desgraçado! Verás o teu
fim! Eu garanto!
Espere! Tinha a intenção de encerrar estas letras aqui, mas
acabei de recordar a caverna de Platão. Sim, gênio maldito, creio que por essa não
esperavas. Tu estás para mim como as sombras estavam para aqueles pobres
coitados enfurnados naquela gruta. Mas o mundo real existe! Eu creio na verdade!
Tu não passas de sombra, um espectro nebuloso que me atormenta a sanidade! E só
de pensar em ti tenho a certeza de existir. Tu não és sem mim, já eu, eu sou
sem ti. Vai-te! E não me atormentes mais.
Assim me despeço!
René Descartes, 23 de março de 1618.
Logo após datar a carta, acordou com o toque da alvorada.
Roberto Renan Belozo - 1º semestre direito noturno.
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