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domingo, 11 de maio de 2014

Durkheim, Comte e a pluralidade de culturas

 Émile Durkheim foi sem dúvida um dos maiores pensadores do século XX, pois foi capaz de revigorar o sistema positivista que vinha sendo constantemente combatido pelas falhas que apresentava. O Positivismo de Comte assumia um progresso único para todas as sociedades humanas no planeta e assegurava que todas chegariam a um mesmo fim, pois estariam sujeitas à mesma regra de evolução social regida pela natureza. O grande problema desse pensamento é o como explicar, por ele, a pluralidade de culturas desenvolvida mundialmente? Como explicar que enquanto na Europa se desenvolveu uma cultura capitalista, nas Américas existiam culturas nas quais a expressão "propriedade privada" sequer fazia sentido?
 No Positivismo Comtiano, as sociedades às quais se faz alusão acima estariam atrasadas culturalmente e precisariam de um guia para trazê-las o progresso. Essa forma de pensar foi a justificativa para o neocolonialismo europeu, o que trouxe como resultado pobreza extrema para muitos dos locais afetados e uma substituição de suas culturas pela cultura Ocidental. Durkheim seguia uma linha diferente de Comte, uma que era muito mais receptiva às diferentes sociedades do globo e dizia que elas eram tão diferentes quanto as condições que existem nos locais onde se desenvolveram e que não há como dizer que uma sociedade é mais ou menos atrasada por conta de progresso científico, pois este nenhum avanço social é capaz de trazer se não for aplicado com esse fim, e que as diversas formas de sociedade pelo planeta mereciam respeito vindo de todos, pois são formas diferentes de se reger a vida do ser humano, sem serem por isso certas ou erradas.
 Durkheim traz ainda outras duas abordagens à Sociologia muito importantes para a compreensão do mundo social: O Funcionalismo e a noção de Fato Social. Por meio destas duas ferramentas, Durkheim modernizou e aproximou o Positivismo da Teoria da Evolução das Espécies de Darwin. Pode parecer desconexo, mas, ao analisar o funcionalismo durkheiniano, este diz que as sociedades funcionam através de órgãos específicos(as instituições) e que estes precisam estar em consonância com a ordem social vigente, da mesma forma que somente os indivíduos bem adaptados ao ambiente em que vive é capaz de sobreviver, e, se uma sociedade se conservou até a data, foi porque seus métodos são eficazes para a realidade em que vivem. Já o Fato Social traz a abordagem necessária para entender as condições humanas às quais as sociedades estão expostas: aquelas que vem delas mesmas, o que seus indivíduos pensam ser o correto, seus defeitos, os problemas enfrentados e a comunicação entre eles. Um exemplo de Fato Social em uma sociedade nativo-americana seria dessa forma: tal sociedade enxerga a Terra como lar, os animais e as plantas como irmãos de uma mesma mãe, logo respeitam-nos e caçam somente aquilo que for realmente necessário à sua sobrevivência. Esse pensamento não veio daqueles que nascem nessa sociedade, mas daqueles que vieram antes, e foram transmitindo suas ideias até que fossem aceitas pelo grupo e se perpetuassem como dominantes, forçando os indivíduos que nascem à elas se adequarem, o que só teoricamente funciona, pois na prática os membros dessa sociedade entram em tamanha comunhão com a natureza que devastá-la chega muito próximo a fazer mal a seus próprios corpos, de maneira que não só as ideias são passadas, mas os próprios indivíduos as aceitam e são capazes de percebê-las em consonância com sua própria realidade.
 Comte pode ser o pai da Sociologia ao introduzir a existência de uma ciência social, mas é Durkheim o filho que aprimora o legado do pai, adequando-o a uma nova realidade e fazendo com que volte a ser considerável pelos demais, carregando consigo uma adaptação da teoria de Comte, para que o positivismo possa ainda sim existir, demonstrando um caráter darwinista até mesmo fora do universo biológico.

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