O despertador toca e acordo para mais um dia de
trabalho. Sexta-feira. Último dia da semana para ser produtivo. Logo me arrumo
e vou para a cozinha tomar um café enquanto leio um gibi do Tio Patinhas, o meu
personagem favorito dos quadrinhos. Assim que termino não há enrolação, vou
direto para o meu local de trabalho. A pé, claro, pois a gasolina atualmente
custa uma fortuna! Uso meu carro simples apenas quando realmente necessário. Durante o caminho, observo uma padaria que permanece a
mesma há 25 anos, sem prosperar. Considero isso quase tão triste quanto a
falência da loja de um amigo, fechada por não ter conseguido se adequar às
exigências de nossa sociedade capitalista.
Chegando ao trabalho, mal cumprimento meus colegas.
Quero apenas sentar em minha sala e trabalhar, amizades aqui não serão úteis. Em
minha pausa, horas mais tarde, entro no Facebook para checar se há algum evento
que auxilie a economizar ou prosperar no trabalho. Oh, grande erro. Logo olho
com desprezo pessoas usando a gíria boba “T.G.I.F.”(Thank God It's Friday). Agradecer a Deus por ser sexta, sério? Esse amor
pelo ócio, por poder trabalhar menos, me dá náuseas. Rio comigo mesmo enquanto
penso que talvez “T.G.I.M.” (Thank God It’s Monday) seja mais adequado, pois
segunda, ah, essa sim é um dia produtivo!
Após o término do expediente normal, faço algumas
horas extras até o horário de ser realmente necessário ir para minha modesta casa.
Obviamente, não haverá alguém para me receber: sou casado com meu trabalho. No
caminho, passo pela porta de uma igreja cristã e um conhecido me cumprimenta.
Respondo secamente. Sei que ele critica muito meu desejo pelo acúmulo de
dinheiro, pois suas crenças pregam exatamente o contrário disso. Mesmo assim,
ele tolera.
Já em casa, janto vendo um episódio de Todo Mundo Odeia
o Chris. Muitos de meus colegas dizem que sou parecido com Julius, o pai do
personagem principal, que sempre sabe o valor de cada coisa, trabalha muito e
se esforça o máximo para economizar, gastando apenas o necessário para
aproveitar a vida. Sinceramente? Encaro como um elogio.
Após um banho, começo a adiantar alguns serviços em
casa enquanto assisto um documentário sobre o Protestantismo e como este foi
necessário para o desenvolvimento do capitalismo e a posterior racionalização
deste. Tal religião apresentava princípios tão inspiradores... Logo vejo
semelhanças com minhas próprias ideias, mesmo não sendo protestante, percebendo
como essas crenças deixaram marcas mesmo perdendo o tom religioso.
Vejo as horas. Melhor dormir, pois mesmo um final de
semana pode ser aproveitado, mas para isso preciso estar descansado. Deito
agradecido por todas as condições que permitem meu trabalho, pois considero
este um verdadeiro sinal e caminho da salvação. Durmo tranquilo pois sei que
graças a pessoas como eu a economia capitalista se sustenta.
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