Carro, Casa, Churrasco
e Futebol: os desejos do povo
O Manifesto Comunista anunciou ao
mundo a luta história das massas pela destruição da burguesia e por melhores condições
de trabalho e de vida. Marx clamou pela união instransponível de trabalhadores,
superando ideias de nação, família e religião. Identificou com maestria o papel
histórico e pendular da burguesia como força revolucionária. No entanto, Marx
falhou em seu entendimento burguês sobre o homem comum, o homem proletário. Fracassou
em desvendar os verdadeiros anseios da massa trabalhadora, assim como o
comunismo sucumbiu aos anseios materiais do trabalhador anônimo.
E a derrocada comunista inicia-se
juntamente com o fortalecimento dos movimentos socialistas. Paralelamente a
criação dos partidos consumistas e socialistas por toda a Europa, no século
XXIX e começo do século XX, dá-se o início de uma série de concessões burguesas
às massas trabalhadoras com o intuito de fragilizar e apaziguar os ânimos
revolucionários dos proletários.O sufrágio foi então, estendido aos
trabalhadores, e percebeu-se a necessidade do Estado em assistir às massas na
educação, na saúde, na moradia, no emprego.Criou-se, na Inglaterra, o conceito
do welfare state seguindo a máxima do
partido trabalhista inglês: “from the craddle to the grave”.O poder estatal,
portanto, passou a cuidar diretamente da vida de cada cidadão, estabelecendo
padrões mínimos de existência no sentido de diluir antagonismos sociais
presentes na sociedade do pós Revolução Industrial.Se no Brasil as concessões trabalhistas
e sociais, sobretudo durante a Era Vargas, foram limitadas, o chamado
peleguismo incumbiu-se de cooptar líderes sindicais e trabalhistas para à
esfera governamental, enfraquecendo partidos e instituições das mais variadas
tendências esquerdistas.O peleguismo, assim como o welfare state, demonstraram
que o trabalhador, na verdade, deseja melhoria social e individual, não
transformação política e econômica.
Marx erra ainda ao não prever a
alienação trabalhadora prevista posteriormente no trabalho de George Orwell. Para
que os proletários de todo o mundo se unissem e assumissem um papel ativo na
destruição da burguesia e da propriedade privada, eles teriam que ter consciência
de classe. Deveriam ter maturidade intelectual para debater os rumos e o
projeto político da massa trabalhadora mundial. Contudo, a educação acadêmica,
humanista, reflexiva e cívica foi proibida às massas. Enquanto a educação
pública era estendida em termos quantitativos, pouco era feito em aspectos qualitativos.
A educação fragmentada ganhava força por toda a Europa, com a divisão precoce
de alunos do primário e do ensino médio em currículos técnicos, especializantes
e acadêmicos. Esse processo que se inicia na Europa, expande-se pelo mundo, com
o neoimperialismo inglês, francês e holandês do século XIX. A classe
trabalhadora, então, embora começasse a frequentar os bancos da escola, não
tinha condições de planejar teoricamente o seu futuro.
Se a educação não conseguiu dar
aos trabalhadores o necessário para que eles identificassem o que queriam, o socialismo
do século XX lhes mostrou o que não queriam. Não queriam igualdade em condições
de miséria, não queriam falta de liberdade política, não queriam proibição da
livre circulação de pessoas, não queriam abdicar de toda e qualquer aspiração
individual em nome do Estado e na noção de coletivo. E por isso, que o
socialismo fracassou. Fracassou porque o homem é individualista, é ambicioso, é
insaciável; porque o desejo de melhorar é incessante. No fundo, o desejo de
igualdade plena e absoluta é um ideal utópico e burguês, porque o sonho do
pobre não é nada mais do que ter uma casa própria, um carro, uma família, um
churrasco de domingo e paz de espírito.
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