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segunda-feira, 5 de maio de 2025

O Ato Coletivo de Resistir e Transformar



Pedro Duarte Silva Sinicio Abib — Direito Noturno


Marx em “A Ideologia Alemã” trata sobre a juventude hegeliana e traz inúmeras críticas, principalmente pelo fato de se limitarem a tratar apenas de representações religiosas e ideológicas, sem questionar de fato, as condições materiais que as produzem. Posteriormente, o autor se direciona mais especificamente a Ludwig Feuerbach, no qual vê alguns avanços, mas ainda identifica um materialismo “rudimentar”, que ainda enxerga o homem enquanto indivíduo isolado e não romperia com a ideologia (conceito de que as ideias determinam o mundo e não o contrário), além de divergências na análise de religião que serão trazidas mais para a frente no texto. Em suma, a crítica marxiana é de que Feuerbach ignora as condições materiais históricas e econômicas que moldam o ser humano e sua consciência, e que o definem enquanto este participante do tecido social.

Marx a partir de suas análises traz algumas proposições e conceitos, um importante deles, a Práxis, que se trataria de uma ação revolucionária e transformadora, que romperia com a filosofia contemplativa (hegeliana) e iniciaria uma filosofia atuante, capaz de mudar ativamente o curso da história a partir de um ato coletivo, através do entendimento do ser humano enquanto um ser social, uma parte de um todo, e dando a esse todo a capacidade de conscientização, mobilização e revolução. Já a análise da estrutura social é feita pela metodologia própria da filosofia marxiana, o Materialismo Histórico e Dialético, que consiste na explicação do desenvolvimento da história com base nas condições materiais da vida e formas de produção econômica, além da análise do resultado das contradições sociais, que neste caso se entende pelas lutas de classes que permearam a história em permanente conflito. A partir de tais conceitos, Marx dá suma importância e protagonismo para a existência material do ser humano, que seria a Estrutura que permearia todas as demais relações em nosso sistema social (Superestrutura). Sendo assim, Marx enxerga a história como etapas marcadas pelos modos de produção e acredita na observação do real em prol da proposição de transformações qualitativas superiores, que alterem a realidade social.

Estabelecido os conceitos, é interessante a análise de dois fenômenos a partir das perspectivas marxianas em contraste com as hegelianas, a primeira, sobre as greves. Recentemente temos visto inúmeros debates acerca dos movimentos de paralisações em massa, com o recente “breque dos apps” que reuniu entregadores de aplicativo em todo o país em prol de melhorias para sua precarizada categoria, e as greves comandadas pelo sindicatos de professores em São Paulo, exigindo aumentos reais em seus salários e condições. É interessante observar a articulação da oposição contra a essas medidas, que tenta justamente escantear a Práxis, valorizando e retificando a todo momento a individualidade, destacando por exemplo, o “privilégio” da “autonomia” dos entregadores de aplicativo, que estariam pedindo em suas greves para serem “menos livres”, assim como os professores, que não deveriam se juntar em sindicatos e que nas palavras de dois vereadores da Câmara de Vereadores de São Paulo, Amanda Vettorazzo e Lucas Pavanato, estariam “emporcalhando a cidade” e fazendo “Vagabundagem”, que aqui seria o ato da greve. Acontece que a greve, nada mais é que a Práxis em sua mais pura forma, nada mais é do que o pensamento e a filosofia atuante, é o entendimento do mundo e das condições materiais da classe trabalhadora oprimida, seja qual for o seu setor, e a partir deste entendimento e tomada de consciência, a ação transformadora. O ato de greve e a sindicalização é um ato coletivo, visando transformações qualitativas práticas, almejando a transformação da realidade social e melhores condições de vida, é um ato de solidariedade, transformação e de revolução.

            E por fim, é interessante a análise da religião na contemporaneidade e suas transformações para abarcar um mundo em crise. Recentemente, no mundo e principalmente no Brasil tem se visto um enorme avanço das igrejas evangélicas neopentecostais sobre a sociedade, exemplo claro disso é o aumento expressivo da bancada evangélica no legislativo, afetando a própria laicidade do Estado Brasileiro. Percebe-se que o pensamento de tal casta é bastante hegeliano, apegado ao mundo das ideias, a abstrações sobre certo e errado e a promessas vagas sobre um mundo superior e posterior, com pouco agregar na prática. A análise marxiana cabe mais uma vez em debates atuais com precisão. O autor, que classifica a religião no mundo contemporâneo como o “ópio do povo”, traz um interessante ponto de vista sobre os problemas sociais atualmente enfrentados. Em um mundo marcado constantemente por crises econômicas globais, aumento expressivo das desigualdades e em face de uma possível extinção a partir das mudanças climáticas, a instrumentalização da religião por esses grupos nada mais é do que uma tentativa reacionária de alienação para a manutenção de seus dispositivos de dominação. A promessa de um futuro divino no pos mortem e a demonização da oposição perante os conceitos divinos, impede que a massa trabalhadora enxergue as ferramentas de dominação e os reais caminhos para a mudança no campo terreno, em nossa vida material e suas relações. O avanço dos preceitos religiosos e dos “autoritarismos em nome de Deus” nada mais são do que tentativas burguesas de manter um controle em um mundo desmoronando e impedir a revolta das massas. Se quisermos reais mudanças na prática, teremos que deixar de nos contentar com o que vem depois, e agir ativamente no agora.

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