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segunda-feira, 5 de maio de 2025

O sonho determinado pela classe.

Para Karl Marx e Friedrich Engels a forma como as pessoas pensam e agem é determinada pelas condições materiais em que vivem; não é a consciência que define a vida, mas a vida social concreta que molda a consciência. Quando essa teoria é aplicada ao filme Sonhos Roubados, é perceptível que a ficção brasileira se aproxima assustadoramente da realidade do país. As experiências retratadas no longa são reflexos da vida de milhões de jovens brasileiras nas periferias urbanas. 

No filme, três adolescentes lutam para sobreviver em um ambiente onde a pobreza e a violência são parte do cotidiano. A prostituição, os pequenos crimes e os relacionamentos abusivos aparecem como respostas inevitáveis a uma estrutura social que as empurra para essas condições. Elas vivem em uma realidade onde as promessas de futuro são sistematicamente negadas. Suas histórias ilustram a tese marxista de que a infraestrutura econômica de uma sociedade molda não só o comportamento, mas também os desejos, os sonhos e até a moralidade das pessoas, os indivíduos não escolhem livremente suas trajetórias em um “campo neutro”, pois suas escolhas são condicionadas pelas estruturas materiais em que estão inseridos. As jovens não sonham pequeno por falta de ambição, mas porque suas possibilidades são moldadas por uma estrutura que já nasceu negando seus direitos mais básicos: acesso à educação de qualidade, segurança, dignidade e oportunidades reais de trabalho. 

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, onde o lugar em que uma criança nasce determina suas chances e opções de futuro. Enquanto isso, discursos ideológicos — como o da meritocracia ou da criminalização da pobreza — tentam ocultar as verdadeiras raízes da desigualdade, elas atribuem o fracasso à responsabilidade individual, desconsiderando os condicionantes estruturais que limitam radicalmente as escolhas dos menos privilegiados economicamente. Essa lógica é justamente o que Marx e Engels criticam, ao afirmarem que a ideologia dominante serve para legitimar e perpetuar as relações de dominação, mantendo a classe trabalhadora em posição subalterna e naturalizando um sistema que beneficia poucos à custa da marginalização de muitos.  

Assim como as personagens do filme, milhões de jovens brasileiras vivem hoje em situação de vulnerabilidade, tendo seus “sonhos roubados” pela ausência de direitos básicos e pela negação sistemática de oportunidades. A ficção, portanto, denuncia e obriga a reconhecer que a transformação social depende de mudanças concretas nas condições materiais de vida da população mais pobre. Portanto, a desigualdade, a exploração e a exclusão seguem sendo estruturais, e qualquer tentativa de mudança verdadeira precisa partir do reconhecimento de que é o sistema — e não o indivíduo isolado — que deve ser responsabilizado e transformado.


Laís Alves de Queiroz- 1 Direito/ noturno

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