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segunda-feira, 5 de maio de 2025

Expressões corriqueiras do capitalismo hodierno à luz do Materialismo Histórico-Dialético.

 Visitar uma megalópole como a cidade de São Paulo, por exemplo, tende a causar perplexidade, espanto e confusão aos visitantes não acostumados com tantos estímulos visuais, sonoros e olfativos. Particularmente, minha primeira visita à cidade de São Paulo - e aqui a uso como exemplo por ser a mais populosa da América Latina, e sede de diversas empresas nacionais e multinacionais - causou-me caláfrios no estômago, lembro-me de sentir-me ínfemo frente àquela grandiosidade, àquele turbilhão. Nessa viagem, quando fui ao Shopping Eldorado, senti-me bombardeado de informações, tanto visuais quanto auditivas, as quais me causaram, quase que instantaneamente, um impulso, embora ainda primitivo, já que eu tinha apenas 11 anos, de consumir, comprar, adquirir propriedades materiais ao ceder o dinheiro de meus pais, obtido com a venda de suas forças de trabalha àqueles que detinham os meios de produção, seja direta ou indiretamente. Decerto, naquele dia, ainda sem poder defini-lo, conheci, por meio de todos os meus sentidos, o capitalismo hodierno em uma de suas expressões mais profundas: a incitação ao consumismo em cada indivíduo que, majoritariamente por meios midiáticos, aliena-se ao conceber, em conformidade com o que busca o próprio capitalismo, as marcas das empresas, lojas, restaurantes e de quaisquer outros meios comerciais, como entidades singulares e passíveis de vislumbre e admiração.

Para uma análise qualitativa da dinâmica social e econômica que vivi aquele dia e em todos os outros dias de minha vida, tanto posteriores quanto anteriores ao evento narrado, não há referencial teórica mais adequado senão as teorias desenvolvidas por Karl Marx e Engels no século XIX, tanto com o livro "O Capital" quanto com o livro "A Ideologia Alemã", nos quais os autores oferecem novas perspectivas de se analisar a existência humana, rompendo com as filosofias metafísicas e puramente ideológicas anteriores a eles, demonstrando que suas teorias têm, sobretudo, um caráter epistemológico; o rompimento se dá a partir de um conceito fundamental para a análise da sociedade sob uma abordagem universal, o Materialismo Histórico-Dialético, que preconiza que uma sociedade qualquer pode ser avaliada quanto ao desenvolvimento de sua força produtiva, isto é, o grau de desenvolvimento dos meios materiais de produção, quanto ao grau de desenvolvimento da divisão de trabalho, isto é, a forma como o trabalho não manual se distingue do trabalho manual, originando estratificações sociais profundas, e por fim, quanto à forma como a luta de classes, burgueses contra proletariados, assume nesta sociedade, isto é, o quanto a classe burguesa possui de propriedades, em detrimento da classe trabalhadora. Sendo assim, a história da humanidade fundamenta-se na configuração que a luta de classes, elemento presente em todas as sociedades capitalistas, historicamente assume e tende a assumir, em um movimento dialético.

Corroborando meu exemplo de vivência, vale ressalter outro exemplo prático e concreto que demonstra, exatamente, como ocorre a transformação dialética dos elementos capitalistas ao longo da história, já que, na hodiernidade, em oposição ao século XIX, a propriedade mais cultuada e de maior valor é a propriedade intelectual, em detrimento da propriedade quanto porção de terra, na qual ocorria a extração e transformação das matérias-primas; falo do processo ocorrido entre os anos de 2014 e 2021, entre a empresa bilionária Johnnie Walker e a empresa João Andante, com sede em Minas Gerais, em que esta teve que indenizar essa em R$ 50 mil, sob a acusação de danos morais, por violar artigos da Lei de Propriedade Industrial. O exemplo exposto reflete como a divisão de trabalho cria instâncias tão distintas em sociedades modernas, trabalho manual marginalizado e exercício intelectual valoroso, culminando em uma ascensão da própria marca á frente dos produtos da empresa e da empresa propriamente dita, evidenciando que o conceito de propriedade, um dos expoentes da luta de classes, embora constante na teoria sociológica de Marx e Engels, origina as mudanças na produção material ao passo que também é originada por ela.

Teodoro Susi Alves
Direito Noturno - 1 Sem

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