A concepção materialista da história, desenvolvida por Karl Marx, denota que as transformações sociais decorrem das relações de produção e da luta de classes. Para o filósofo alemão, o modo como a sociedade organiza a economia determina suas instituições, ideologias e relações sociais. Nesse ínterim, a compreensão sociológica marxista não apenas interpreta a realidade, mas denuncia as estruturas que perpetuam desigualdades e formas de dominação. Ao refletir sobre essa abordagem à luz de contextos literários e da sociedade contemporânea, percebe-se que o controle ideológico e a exploração econômica continuam a moldar as experiências humanas.
A obra literária 1984, de George Orwell, projeta um futuro distópico em que o Estado totalitário exerce domínio absoluto sobre a vida dos indivíduos por meio da vigilância, da repressão e da manipulação da informação. Essa realidade fictícia guarda semelhanças com o conceito marxista de ideologia como instrumento da classe dominante para manter seu poder. Ao manipular a verdade e reprimir o pensamento crítico, o regime de Orwell simboliza a alienação social imposta pelo controle dos meios de comunicação e pela naturalização da desigualdade. Assim, a obra evidencia como a superestrutura — as instituições políticas e culturais — reflete e reforça os interesses das elites econômicas.
De modo complementar e, em paráfrase, A Revolução dos Bichos, também de Orwell, retrata a ascensão de uma classe dominante dentro de uma revolução inicialmente igualitária. O desenrolar da narrativa mostra como a elite — associada aos porcos — se apropria dos meios de produção e estabelece uma nova forma de opressão sobre os demais animais. Essa alegoria ilustra o processo de substituição de uma classe opressora por outra, mantendo-se, no entanto, as estruturas de exploração. A crítica marxista se torna evidente: sem a ruptura efetiva com os sistemas de dominação econômica, as revoluções acabam por reproduzir as desigualdades anteriores, travestidas de novos discursos ideológicos.
Dessa forma, a análise da realidade a partir da concepção materialista da história permite compreender como as estruturas econômicas moldam as dinâmicas sociais, políticas e culturais. Tanto nas obras literárias quanto no cotidiano, nota-se que a desigualdade social, o controle ideológico e a alienação são fenômenos que emergem de relações materiais historicamente construídas. A leitura marxista, nesse contexto, segue sendo uma ferramenta valiosa para desvelar as contradições do sistema capitalista e entender os mecanismos que sustentam a dominação de classes.
Luiz Felipe Hernandes Paschoim - 1° ano, Direito (matutino).
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