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segunda-feira, 5 de maio de 2025

A concepção materialista da história de Marx e o avanço das desigualdades na América Latina contemporânea

     A teoria marxista parte do princípio de que a realidade social é fruto das condições materiais e das relações de produção que moldam a vida humana. Marx e Engels propõem uma ruptura com a filosofia idealista ao colocarem o “ser social” como base para a compreensão da história. Não ideias, mas as condições concretas que moldam as ideias, o chamado materialismo histórico. Essa abordagem torna-se relevante observando o contexto da América Latina, onde as crises econômicas, as discussões sobre políticas sociais e a precarização do trabalho reacenderam mobilizações populares e debates sobre justiça social.

    O caso do Brasil é emblemático. Em anos recentes, pode observar-se um crescimento nos protestos contra medidas que afetaram diretamente os trabalhadores, como a ampliação da terceirização, o congelamento de investimentos em saúde e educação e as propostas de reforma administrativa. Tais medidas foram justificadas sob a ótica de uma racionalização estatal, ecoando a noção hegeliana de Estado como forma superior de organização. Na prática, representaram a manutenção de interesses da elite econômica em detrimento das necessidades da classe trabalhadora.

    À luz da teoria marxista, pode-se entender a atual situação sociopolítica brasileira como uma expressão da alienação gerada pelo Estado burguês, que Marx identifica como representante dos interesses da classe dominante, e não como um agente neutro ou universal. Opondo-se ao idealismo hegeliano, onde o Estado é visto como uma espécie de racionalidade encarnada, Marx destaca que a verdadeira dinâmica histórica ocorre na sociedade civil, nas contradições entre capital e trabalho.

    A intensificação do trabalho informal, o desemprego estrutural e o crescimento das periferias urbanas servem como exemplo de condições materiais de existência, que moldam as representações ideológicas. Outras fontes ideológicas importantes são encontradas em representações religiosas, midiáticas ou até mesmo jurídicas, que podem justificar a desigualdade, naturalizar a pobreza, ou promover discursos ideológicos como meritocracia ou empreendedorismo individual, encobrindo a miséria real, servindo como “ópio do povo”.

    Nesse sentido, as recentes mobilizações populares exigindo moradia digna, salários justos, acesso à educação ou outros direitos fundamentais de todo cidadão, podem ser vistas como expressões da luta de classes, evidenciando que a história verdadeiramente é um processo de transformação impulsionado por contradições internas às relações sociais.

    Desse modo, o pensamento marxista continua sendo uma relevante ferramenta, servindo tanto para análise das causas estruturais da desigualdade e como maneira de idealizar alternativas que tenham como base as condições concretas da vida dos indivíduos, ao invés de meras abstrações. Em tempos de intensificação das crises sociais e ambientais, a concepção materialista da história é chave para repensar os caminhos da justiça social.

Isabel Carvalho Choairy - 1° ano direito noturno

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