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domingo, 15 de março de 2020

Teoria de sistemas e falhas de conectividade

(alguns termos e conclusões mencionados aqui estão relacionados com o meu texto anterior, que pode ser encontrado aqui)

O filme "Ponto De Mutação", discutido em aula, apresentou uma introdução básica à teoria de sistemas. Enquanto o método cartesiano busca entender o mundo dividindo-o em peças fundamentais, estudando-as uma por uma, e depois remontando o mundo esperando chegar a conclusões significativas, a teoria de sistemas busca entender o mundo olhando apenas para as conexões nele contidas. Para entender alguma coisa, basta apenas entender as interações que tal coisa realiza em seu ambiente, no contexto em que está sendo estudada.

Embora eu acredite que tal perspectiva possa providenciar uma enorme quantidade de conhecimentos úteis que dificilmente seriam teorizados no paradigma cartesiano, não acho que, por si só, a adoção da teoria de sistemas como método predominante seja a revolução do conhecimento que precisamos para a era da informação, poderíamos simplesmente acabar criando "especialistas híbridos", que se focam inteiramente no estudo de apenas um tipo de conexão, levando-os as mesmas vulnerabilidades e ignorâncias que atormentam o homem moderno dentro do sistema cartesiano. Porém, a teoria de sistemas, se usada para estudar as conexões mais importantes, as conexões entre pessoas, pode ser a chave para o desenvolvimento da ciência social e colaborativa que eu acredito será necessária para avançar e efetivar a ciência nos dias de hoje.

Após a discussão do filme, houveram discussões em grupo de diversos temas tangenciais aos temas do filme, meu grupo foi encarregado de discutir diferenças de gênero no direito, meu grupo tinha sete homens e uma mulher (provavelmente um bom reflexo de como muito do jurismo brasileiro trata de problemas de gênero). Apesar das óbvias limitações da desproporção de representatividade, não achei que ninguém em meu grupo era ignorante sobre o assunto, mas eu sentia que muito da discussão, inclusive o que vinha de mim, era apenas uma propagação de um conhecimento gerado por outrem, não só apenas de fatos observados por outros, mas de conclusões tiradas por pessoas que nenhum de nós conhecia. Me perguntava quanto do que dizíamos vinha de nossas próprias crenças e experiências de vida, e quanto vinha da tentativa de conformar com uma expectativa derivada de um consenso social do que devíamos dizer diante de um assunto sensível. Apesar de confiar plenamente na honestidade e integridade de minha colega, em particular eu me preocupava se o que ela dizia era afetado por expectativas do que ela precisava dizer como "A mulher do grupo".

Trabalhos em grupo geralmente vêm com o intuito de ensinar as pessoas a colaborarem uns com os outros, mas raramente tal ensino vem acompanhado de técnica ou metodologia. Como a ciência hoje tem que quase sempre ser colaborativa, eu questiono a eficácia de se tentar ensinar a colaborar e se conectar sem um método. Coisas como estabelecer critérios de confiabilidade, graus de certeza e relevância, estabelecer papéis durante a discussão, geralmente ficam por parte de definições pessoais, que são inevitavelmente sujeitas a falharem. Sem uma "ciência social e colaborativa", acredito que até o jurista mais bem intencionado e bem informado possa estar sujeito a degenerar sua opinião durante uma discussão, e até mesmo cometer "papagaismos" sociais como qualquer outra pessoa.

Precisamos melhor entender as conexões sociais que ditam os nossos processos de comunicação para podermos enfim melhorar as nossas interações, e isso me parece muito mais fazível se utilizando da teoria de sistemas, do que de uma dogmática cartesiana.

Thiago de Oliveira Lopes - 1º ano de Direito - Noturno

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