No
filme “Ponto de Mutação”, de Bernt Capra, a personagem Sonia Hoffman – uma física
pessimista quanto ao papel da ciência – afirma “A ciência já passou o
pensamento mecanicista nesta proporção. Mas vocês políticos parecem ainda ter
essa máquina dentro de suas cabeças”. Factualmente, à medida que consolida-se uma
intersecção entre as esferas acadêmicas e políticas na contemporaneidade, constata-se
o uso mecânico da ciência para benefício estadista, corrompendo sua responsabilidade
social. Tal fato determina tantos as relações de poder existentes no que
concerne à produção de conhecimento quanto a falta de atenção do meio acadêmico
em relação à sociedade. Ademais, entende-se a função social lacunosa da ciência
na pós-modernidade como essencial para a constatação dessa como instituição
obsoleta.
Exposto
o elencado, cabe destacar as relações entre a política e o conhecimento
científico. Tendo em vista os efeitos da globalização e do avanço tecnológico
no mundo moderno, é irrefutável a maneira com a qual os saberes científicos são
utilizados para fins geopolíticos. Sobretudo no que tange ao meio bélico, a
Ciência tem se provado uma importante ferramenta na imposição de nações, no
contexto internacional, e de grupos dominantes, no cenário nacional. A exemplo
dessa situação, tem-se desde os aparatos tecnológicos que aprimoram a economia,
através das conjunturas comerciais e industriais, até as mídias digitais, que promovem
a comunicação entre indivíduos distantes geograficamente e propiciam a
velocidade da informação – poderosos mecanismos para a consolidação de classes políticas.
Em um outro caso, no filme de Bernt Capra, Sonia menciona como as experiências
científicas podem ser utilizadas para a destruição, utilizando como exemplo a
Bomba de Hiroshima e Nagasaki. Por fim, obtém-se que, com o fomento à Ciência,
essa abandona suas responsabilidades sociais e passa a arquitetar avanços e
conhecimento direcionados ao interesse de soberanos.
Outrossim,
é cabível a discussão sobre o retorno dos conhecimentos científicos para a
sociedade como um todo. A falta de acessibilidade da ciência para a população é
inegável e, em decorrência de tal circunstância, infere-se que a produção do
saber está cada vez mais delimitada dentro das paredes físicas de um
laboratório ou da Academia. Com isso, a falta de integração impede que a
ciência tenha contado com a sabedoria popular e evolua progressivamente com
ele. Também é englobada pela pauta a maneira com a qual as Ciências Humanas se
ausentam, por muitas vezes, do meio social ainda que esse seja propriamente seu
objeto de estudo, de tal forma que não somente as Ciências Exatas e Biológicas
sejam necessariamente responsáveis por essa situação alastrada. Por fim, é
indubitável que existem problemas relativos no tocante ao papel da ciência no
mundo pós-moderno – o que acentua a discrepância entre a ciência determinada
pelos pensadores do século 17 e o papel social que essa possui e deve assumir
na atualidade.
Portanto, é necessário repensar a
ciência quantos aos moldes de como ela é fundamentada na hodiernidade. Enquanto
o papel social dessa estiver ausente em todas as esferas que o competem, irá se presenciar uma produção obsoleta de conhecimentos - de tal maneira que as
descobertas alimentarão um progresso tecnológico e informacional, mas não o
avanço da civilização. Assim, a ciência ausenta-se de seus deveres e abastece
as classes dominantes que a tratam como um meio e não como uma finalidade. Os
saberes científicos tornam-se fragilizados pela dependência quanto as classes
que o financiam e, progressivamente, passam a ser reféns da estrutura de poder
sustentada por eles em um ciclo vicioso de ganância e imoderação.
Giovanna Spineli de
Paiva – Noturno (1º ano)
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