Pedalo ao longo do acostamento da estrada. Moro próximo a esta rodovia e já estou habituada a sua paisagem homogênea e imutável. A monocultura de cana-de-açúcar sempre esteve presente na minha vida, todos os dias passo por ela para ir à escola. Nunca tentei mudar de caminho, foi esse o qual me ensinaram e pensar que posso me perder, não chegar a lugar nenhum, deixa-me apavorada.
Acredito que o medo de desorientar-se e não encontrar o seu objetivo final pela estrada não é exclusivo meu. E também penso que é devido a isso que o método de Descartes foi tão difundido. Parcelar, observar e analisar as pequenas parte de um todo foi uma maneira alinhada de ordenar e atingir de forma mais especializada dado conhecimento. Com ele, cientistas puderam dominar partes específicas de suas áreas do saber, aprofundando e descobrindo dados que seriam mais dificilmente encontrados se a pesquisa não restringisse seu objeto de pesquisa.
Contudo, nem tudo foram flores, pois tudo o que limita uma hora vira barreira. Tamanha especialização, apesar de ter trazido frutos imensuráveis para o desenvolvimento humano, criou uma enorme segregação entre os conhecimentos. Há, atualmente, enorme dificuldade de se realizar conexões e compreender o todo daquela mesma parte estudada. A noção de ecologia dos saberes foi colocada de lado e, tanto a mente dos cientistas quanto os locais de estudo, tornaram-se enormes monoculturas, como essa pela qual perpasso. Mesmo com esses danos, escolas e universidades continuam a insistir nesse caminho, seguindo a mesma estrada do século XVII.
Olho para o relógio: 16:37. Estou chegando, finalmente, em casa. Penso em todo o ecossistema que havia nesse trecho anteriormente e que nunca mais voltará. Torturar o planeta foi, também, uma das consequências dessa metodologia. Fizeram uma estrada, olharam para ela separadamente, mas foram incapazes de imaginar as vidas animais e vegetais que morreriam por isso. Plantaram apenas cana, olharam para ela separadamente, mas foram incapazes de imaginar a quantidade de fertilizantes que iriam utilizar para mantê-lo fértil. Muito menos de se preocupar com o efeito dos mesmos no rios. E na população que bebe as águas dos rios. E no sistema de saúde para essas pessoas. É uma teia infinita, mas que ninguém conseguiu refletir. Ou pelo menos não quis, uma vez que essa ciência, além de desagregada, é financiada. E quem paga decide sobre o que se deve pensar.
Agora chego em casa e abro a porta. Vejo tudo o que a ciência moderna me trouxe. Me aproximo da televisão e, então, ligo no noticiário. Vejo tudo o que ela causou.
Marina Colafemea - 1° ano Direito - Noturno
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