As máquinas ganharam espaço no cenário mundial com as chamadas revoluções industriais, que inseriram a tecnologia no campo da produção e fizeram das máquinas o maior símbolo de desenvolvimento da humanidade. Entretanto, antes mesmo da indústria, René
Descartes já introduzia as máquinas em seus estudos, inaugurando a visão mecanicista na ciência moderna, em que afirma: “Vejo o corpo como nada mais que uma máquina”, assim, para Descartes, tudo era formado por um conjunto de partes que podem ser reduzidas
e separadas de um sistema, como uma máquina composta por peças. Mesmo depois de séculos, a visão de René ainda perpetua as esferas sociais e é concretizada na percepção de mundo mecânico, em que descarta-se a existência de um sistema, e limita-se ao conhecimento
das partes.
Assim, verifica-se as limitações do método de Descartes principalmente na realidade atual, fatos abordados no filme O ponto de mutação, baseado na obra de Fritjof Capra, em que a cientista Sônia Hoffmann atenta-se a necessidade da construção de uma nova
visão de mundo baseada na compreensão do sistema como um todo. Nesse contexto, pode-se mencionar, por exemplo, em paralelo com a atualidade, a questão da proibição de canudos, devido aos seus malefícios à vida marinha, além do acúmulo de plástico, protesto
amplamente difundido mas que muita vezes refere-se apenas a uma pequena fração de todo o problema acerca da poluição e degradação do meio ambiente. Desse modo, um grande número de pessoas que aderem a esse movimento não preocupam-se com o desmatamento, o descarte
de metais pesados, vazamento de óleo, uso de sacolas plásticas, acúmulo de lixo por produtos descartáveis, e não apenas os apoiadores da causa, mas também os países que aprovam projetos de lei voltados à proibição dos canudos promovem e apoiam a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento para dar lugar a mineração, a agricultura, entre outras questões que impedem o desenvolvimento sustentável, desconsiderando os fatores que acarretam o ciclo da destruição
da natureza como um todo e, assim como defendeu Sônia, limitam-se as raizes e ao caule, que por mais que sejam essenciais, não definem o todo.
Além disso, Francis Bacon também revolucionou o pensamento da época com a frase que até hoje é um marco na história: “saber é poder” e que evidencia a crise de percepção a qual estamos vivendo. A construção do conhecimento como forma de poder tem causado
prejuízos, muitas vezes irreparáveis, pela inconsequência na produção e busca do saber que pode ser destrutivo, assim como presenciamos em Hiroshima e Nagasaki, em que o conhecimento nuclear aliados a guerra e o poderio de um país, ceifou a vida de milhares
de pessoas e deixou marcas de destruição na cidade. Tal questão acerca do pensamento de Bacon é um dos temas da discussão entre Sônia, Thomas e Jack, protagonistas do filme de Fritjof e que percebem a falta de limites do saber como
forma de obtenção e manifestação do poder.
Por fim, o pensamento ecológico proposto pela cientista no longa-metragem apresenta-se como forma de superação da visão atual do mundo, permitindo a integração entre os pensamentos e ações humanas, aliados ao desenvolvimento e evolução das próximas gerações,
muitas vezes superando as visões de Descartes e Bacon de um mundo mecânico e destrutivo, que não reconhece a complexidade dos problemas e limita-se a percepção das peças reduzidas diante de um sistema que só funciona quando integrado, assim como a sociedade.
Ana Carolina de Campos Ribeiro - Direito matutino (1º ano)
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