René
Descartes, um dos grandes arquitetos do método científico, indicou que “repartir
cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quanto fossem possíveis
e necessárias a fim de melhor solucioná-las” seria um dos princípios básicos da
razão científica. De acordo com tal perspectiva, portanto, estudar separadamente
os desafios enfrentados pela humanidade é a melhor maneira de produzir ciência e,
consequentemente, de compreender o mundo. O filme “ O Ponto de Mutação”, no
entanto, estabelece um contraponto com o método de Descartes, ainda muito
utilizado nos diversos âmbitos científicos, culturais e sociais.
Uma
das personagens do longa-metragem, Sônia, é uma física que se opõe fortemente à
visão cartesiana, ou seja, uma visão que busca a fragmentação dos problemas
para tentar solucioná-los. Para mostrar os malefícios desse modo de pensar aos
personagens Jack e Thomas, a cientista dá o exemplo da medicina atual. Para
ela, os profissionais da saúde tentam combater uma doença de modo isolado, sem
tentar compreender os diversos fatores que levaram àquela patologia. Assim, o
paciente muitas vezes é curado apenas momentaneamente, sendo passível de
adoecer novamente.
Em
outro momento do filme, os personagens refletem acerca de um tema muito atual:
a destruição do meio ambiente como consequência desse pensar mecanicista. É por
meio de uma visão tradicional de desenvolvimento tecnológico que o homem
justifica suas ações prejudiciais ao equilíbrio da natureza. Ademais, é por meio de uma
busca obsessiva por crescimento econômico que muitos países, como o Brasil,
planejam aumentar ainda mais a criação de gado e, por conseguinte, aumentar o
consumo de carne vermelha. Como indicado no filme, essas ações acabam
resultando em um aumento do efeito estufa e, portanto, na diminuição dos
recursos naturais necessários a humanidade.
Além
disso, também podemos relacionar o método cartesiano a uma visão individualista
de compreender o mundo e os problemas contemporâneos. Quando o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro,
declara que “a Amazônia é nossa” e utiliza de tal argumento para negar a influência
de outras nações no debate sobre a preservação da floresta, ele compactua com
um pensamento de fragmentação, de separação de preocupações que deveriam ser
coletivas, como a ameaça ao equilíbrio ambiental.
Assim,
é necessário avaliar a aplicabilidade atual do método científico de Descartes
que, apesar de ter sido considerado um avanço em sua época, não permite uma
visão geral e sistêmica dos desafios contemporâneos. Como dito por Sônia no
filme “O Ponto de Mutação”, “Somos todos parte de uma teia inseparável de
relações”.
Júlia Scarpinati- 1° ano Direito - Matutino
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