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domingo, 15 de março de 2020

Por uma mudança no pensar científico


René Descartes, um dos grandes arquitetos do método científico, indicou que “repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quanto fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las” seria um dos princípios básicos da razão científica. De acordo com tal perspectiva, portanto, estudar separadamente os desafios enfrentados pela humanidade é a melhor maneira de produzir ciência e, consequentemente, de compreender o mundo. O filme “ O Ponto de Mutação”, no entanto, estabelece um contraponto com o método de Descartes, ainda muito utilizado nos diversos âmbitos científicos, culturais e sociais.
Uma das personagens do longa-metragem, Sônia, é uma física que se opõe fortemente à visão cartesiana, ou seja, uma visão que busca a fragmentação dos problemas para tentar solucioná-los. Para mostrar os malefícios desse modo de pensar aos personagens Jack e Thomas, a cientista dá o exemplo da medicina atual. Para ela, os profissionais da saúde tentam combater uma doença de modo isolado, sem tentar compreender os diversos fatores que levaram àquela patologia. Assim, o paciente muitas vezes é curado apenas momentaneamente, sendo passível de adoecer novamente.
Em outro momento do filme, os personagens refletem acerca de um tema muito atual: a destruição do meio ambiente como consequência desse pensar mecanicista. É por meio de uma visão tradicional de desenvolvimento tecnológico que o homem justifica suas ações prejudiciais ao equilíbrio da natureza. Ademais, é por meio de uma busca obsessiva por crescimento econômico que muitos países, como o Brasil, planejam aumentar ainda mais a criação de gado e, por conseguinte, aumentar o consumo de carne vermelha. Como indicado no filme, essas ações acabam resultando em um aumento do efeito estufa e, portanto, na diminuição dos recursos naturais necessários a humanidade.
Além disso, também podemos relacionar o método cartesiano a uma visão individualista de compreender o mundo e os problemas contemporâneos. Quando o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, declara que “a Amazônia é nossa” e utiliza de tal argumento para negar a influência de outras nações no debate sobre a preservação da floresta, ele compactua com um pensamento de fragmentação, de separação de preocupações que deveriam ser coletivas, como a ameaça ao equilíbrio ambiental.
Assim, é necessário avaliar a aplicabilidade atual do método científico de Descartes que, apesar de ter sido considerado um avanço em sua época, não permite uma visão geral e sistêmica dos desafios contemporâneos. Como dito por Sônia no filme “O Ponto de Mutação”, “Somos todos parte de uma teia inseparável de relações”.

Júlia Scarpinati- 1° ano Direito - Matutino 

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