Além disso, ele critica a ciência na medida em que esta, até mesmo despercebidamente , substitui o seu objeto - que deveria ser a realidade das coisas (dos fatos sociais, no caso) - pelas ideia que os próprios cientistas espontaneamente formulam a seu respeito, pois dessa maneira é improvável que se obtenha um conhecimento objetivo. Os homens têm a característica de, involuntariamente, criar pensamentos fortemente influenciados por valores, perspectivas e opiniões próprios, portanto, se estas ideias prevalecem como o foco do seu estudo, este é prejudicado. Esse argumento fortalece a proposta de Durkheim no tocante ao modo mais adequado de enxergar-se os fatos sociais: como coisas. Assim, a distinção entre eles e as ideias
que surgem a partir deles são mais facilmente diferenciados e, então, o cientista tem mais facilidade de desvencilhar-se dos seus pensamentos para priorizar a análise do seu objeto de estudo, havendo menos riscos que possam comprometer essa objetividade.
Nesse ponto posso questionar qual tem sido o papel das escolas de Ensino Fundamental e Médio da atualidade. Elas atuam como educadoras ou informadoras? Educar é um desafio de cunho muito mais subjetivo do que aparenta ser quando apenas se ouve essa palavra sendo dita. Educar propõe todo um conjunto de valores a serem transmitidos e apreendidos, bem como uma conduta adequada e a adaptação à cultura do meio em que se vive e à sua conjuntura tempo-espacial. Já informar não se vale desses princípios, apenas consiste na transmissão de conteúdos científicos, com fins de menor prazo e aplicabilidade principalmente intelectual. Em tese, são essas suas definições básicas. No entanto, na prática é possível observar a inversão desses papéis em muitos casos. Enquanto vê-se educadores de Ensino Fundamental negligenciando seus alunos ou desrespeitando-os e portando-se com desprezo e desinteresse, também se encontra professores de Ensino Médio tentando enculcar nos seus alunos suas próprias maneiras de pensar a respeito das coisas, fazendo justamente o que Durkheim condena, isto é, priorizando os próprios pensamentos e não os conteúdos em si, que inspiraram esses pensamentos. Essa é uma ilustração contextualizada de algo que Durkheim reforça muitas vezes ao decorrer da sua obra, que é a visão do fato social como uma coisa, como um objeto concreto a ser estudado a fim de privar a sua análise de preceitos intrínsecos aos homens que o tomarão como tema de estudo. Para ele, o mais seguro é colocar as ideias que se tem sobre as coisas - já que é inevitável que elas existam - abaixo delas, sob elas. Assim, as ideias sobre as coisas devem situar-se sob as coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário