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domingo, 8 de agosto de 2021

SUICÍDIO: ENTRE O INDIVÍDUO E O COLETIVO

Enquanto alguns possuem o desejo pela imortalidade, outros não contém mais esperanças na vida e acabam por interrompê-la. Certamente, um dos grandes questionamentos da humanidade é: Por que as pessoas cessam a sua existência? 

Durkheim, um sociólogo que prega a supremacia da sociedade sobre o indivíduo, menciona que esse fator possui causas demasiadamente sociais. A saber, o autor menciona em seus escritos que o suicídio é um fato social, ou seja, é um fenômeno social, na qual o ato praticado não reside apenas no sujeito, as causas sociais se impõem sobre os indivíduos e os levam a cometer o ato. 

Torna-se inexorável fazer um adendo que Émile não está e nem deve apresentar-se imune às críticas. Contudo, o autor causa uma reflexão importante ao trazer o suicídio fora das ciências médicas e abordar que o meio social pode sim influenciar nas ações das pessoas. Novamente reiterando que o suicídio possui causas multifatoriais e ninguém é digno de estabelecer um julgamento quanto a esse ato. 

Quando o termo fatos sociais é mencionado, torna-se imprescindível analisá-lo sob a perspectiva do autor para compreender como o suicídio pode estar correlacionado com o ambiente social. Nas palavras de Durkheim, os fatos sociais são definidos como: "toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas manifestações individuais". 

Ao analisar a questão da coercitividade é plausível abordar a força dos fatos sociais segundo o sociólogo. Ao aderir esse adjetivo aos fatos sociais, é de se pensar como estes se impõem sobre os indivíduos, exercendo grande pressão para uma adesão de todos os sujeitos sociais naquilo que o grupo considera como “bom”, “certo” ou “normal”. E, na medida que um determinado ser contraria essa “normalidade” imposta pelo grupo, ele é duramente reprimido e subjugado. Para melhor compreensão, pode-se utilizar de ocorrências atuais que se manifestam no território nacional. A saber, é incontestável que o Brasil é um país racista, homofóbico e discriminador, e que a heteronormatividade é uma ideologia imensamente propagada. 

No dia 3 de agosto, em pleno século XXI, na qual as liberdades individuais deveriam ser tratadas como vitais por TODOS, um jovem, de apenas 16 anos se suicidou, tendo como uma das causas os comentários extremamente antiquados e horripilantes realizados nas redes sociais sobre a sua orientação sexual. Certamente, a sociedade possui o poder de cessar a vida de um indivíduo, de reprimi-lo, de humilhá-lo quando este contraria a sórdida “normalidade” reproduzida pelo grupo social. 

Além disso, ao apontar sobre a exterioridade e a generalidade dos fatos sociais pode-se aludir a como estes fenômenos existem independentemente da vontade dos indivíduos e como eles se impõe a todo e qualquer sujeito social, exercendo coerção sobre todas as pessoas. Ou seja, desde o nascimento TODOS os sujeitos seriam expostos a regras, valores e comportamentos sociais na qual são coagidos a se adequar, são praticamente forçados a assimilar e reproduzir o que é a “normalidade” propagada pelo grupo. 

Permito-me adentrar em minhas opiniões e fazer um acréscimo alegando que isto não pode e nem deve pautar-se em um determinismo geográfico, na qual o meio determina quem será o sujeito social. Pois, ao analisar o fenômeno social dessa maneira partiremos (segundo meus critérios) para uma generalização. Por exemplo, se os fenômenos são de fato gerais (valem para todos os indivíduos) e externos, um discurso que afirma que todo ser que nasce e convive com o crime ou que habita uma favela é um criminoso seria na verdade inquestionável, e esta menção é mais do que evidentemente um equívoco. 

No entanto, ao examinar a generalidade e exterioridade sob a perspectiva do suicídio e do lastimável acontecimento mencionado, torna-se necessário abordar como essa coerção imposta a todos, para que operem segundo os valores doº  coletivo, são danosas e irresponsáveis. Primeiramente é preciso referir que a “normalidade” brasileira é ser preconceituosa, homofóbica e discriminatória, portanto, como o país deseja ser um propagador de democracia e direitos fundamentais espalhando, por meio dos chamados fatos sociais, o ódio e a exclusão? 

Portanto, se realmente os fatos sociais estão presentes, assim como mencionava Durkheim, pedirei a todos os deuses que a “normalidade” brasileira seja alterada, pois não podemos admitir que mais jovens e diversas pessoas tirem suas vidas por uma influência monstruosa da sociedade. Nós, enquanto seres humanos, devemos ser o que somos e não cabe à sociedade impor regras e valores para retirar a felicidade e até mesmo a vida de um indivíduo.

LÍVIA GOMES - 1º PERÍODO NOTURNO

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