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terça-feira, 21 de abril de 2020

A problemática do negacionismo científico em relação às pandemias históricas e seus efeitos globais

Uma característica inerente aos seres vivos é a susceptibilidade à ausência de saúde. Sejam por problemas crônicos ou pela ação de agentes patológicos, as doenças, também associadas às formas de surto, endemia, epidemia e pandemia, vêm assolando a humanidade ao longo de toda a sua História. Em particular, os cenários mais graves estão relacionados às pandemias, que possuem caráter global e são responsáveis por algumas das mais marcantes crises mundiais.
Alguns dos casos mais emblemáticos remetem ao século XIV, quando a peste bubônica dizimou um terço da população europeia; a 1918, com a infecção de cerca de um quarto da população mundial pela gripe espanhola; ao ano de 2009, no qual mais de 75 países enfrentaram a gripe suína e, finalmente, a 2020, com a disseminação da Covid-19 - causada pelo SARS-CoV-2, um tipo de Coronavírus.
Para Christiane Maria Cruz de Souza, historiadora do Núcleo de Tecnologia em Saúde do IFBA, “a liturgia das grandes epidemias é sempre muito parecida. Primeiro, as autoridades negam que ela existe, uma vez que é algo desconhecido e com potencial de abalar a economia e os sistemas de saúde. Muitos dos discursos das autoridades no início da pandemia de 1918 se assemelham ao que vemos hoje”. À época da Primeira Guerra, era comum a censura às notícias sobre a moléstia espanhola em diversos países, principalmente devido à forma que a epidemia afetava a capacidade bélica dos europeus. No Brasil, as notícias sobre a doença eram negligenciadas pelo discurso oficial, que acabou não atuando de maneira eficaz para impedir a sua disseminação.
De forma paralela à 1918, em diversos lugares do mundo, é possível encontrar exemplos desse tipo de negacionismo em relação à nova pandemia. Dentre eles, destaca-se o caso do Turquemenistão, no qual o ditador Gurbanguly Berdymukhamedov, por acreditar que toda a atual mobilização global é fruto de uma histeria, proíbe a divulgação de qualquer informação referente à Covid-19 e ao Coronavírus - inclusive o uso dessas palavras -, colocando toda a população nacional em risco. Além disso, há a situação da Nicarágua, onde o autocrata Daniel Ortega opõe-se às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), mantendo as fronteiras do país abertas e não decretando o isolamento social necessário. Ademais, atribui culpa à imprensa acerca do contexto vivido, apontando a pandemia como exagerada e confiando em Deus para protegê-lo - assim como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Nesse sentido, surge a necessidade de se questionar o direito desses e de outros representantes em confrontarem a ciência. Em estados como este, nos quais as informações ainda são muito recentes e não há previsão de uma cura imediata, espera-se o foco na prevenção e no controle da doença, a fim de reduzir ao máximo seus impactos. Quando tratados com descaso por essas autoridades, esses efeitos tornam a condição ainda mais grave, já que não há fatos que comprovem com responsabilidade as afirmações contrárias às observações da OMS e de outros órgãos de saúde.
Somado às circunstâncias anteriormente citadas, o discurso negacionista, que trata as medidas protetivas e a informação difundida pelos canais de comunicação como supérfluas, acaba legitimando fake news, pseudo-cientificismos e manifestações contra o isolamento social, como as ocorridas e apoiadas pelo presidente Donald Trump, no dia 18 de abril, nos Estados Unidos, de maneira a agravar ainda mais a crise.
Historicamente, ideologias e epidemias se difundem de forma muito semelhante, provocando o aparecimento de conflitos sociais e de resistência ao intervencionismo e às tentativas de conter patologias. Ao conceber a ciência como reflexo do contexto político, social, econômico e cultural de quem a produz, isto é, dotada de parcialidade, o direito de confrontá-la se mostra fundamental e legítimo. Entretanto, a partir do momento que esse embate gera desdobramentos negativos para a sociedade, como o aumento do número de mortes devido à Covid-19, é preciso combatê-lo. 

REFERÊNCIAS

BIERNATH, André. Coronavírus: quais as semelhanças entre a Covid-19 e outras pandemias do passado?. In: Saúde Abril. Disponível em: https://bit.ly/2VMTa3J. Acesso em: 20 abr. 2020.

SANDOVAL, Pablo Ximénez de. Protestos contra o confinamento crescem nos EUA  incentivados por Donald Trump. In: El País. Disponível em: https://bit.ly/3cG0LYX. Acesso em: 21 abr. 2020.

PALACIOS, Ariel. Os presidentes negacionistas da pandemia. In: Época. Disponível em: https://glo.bo/2KoBarb. Acesso em: 21 abr. 2020. 

Ana Eliza Pereira Monteiro - 1º ano Direito - Matutino

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