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segunda-feira, 26 de março de 2018

A influência do Positivismo no judiciário e sociedade atual


      O positivismo proposto por Auguste Comte no século XIX foi, na época, revolucionário. Baseado em uma praticidade e brevidade dificilmente vistos antes da criação da escola, prega que as únicas experiências válidas são aquelas baseadas no mundo sensível, que a ciência é a única forma de progresso da humanidade, que a sociedade não deve buscar o poder direto, mas sim a participação contínua no poder moral, além da valorização dos deveres e da sociedade em detrimento ao indivíduo. Devido a estes aspectos, a escola foi muito importante para o pensamento ocidental, porém ela já não se enquadra nos padrões do mundo moderno. Suas ideias de ordem e progresso, que inclusive estão escritas na bandeira do Brasil, propõem justamente essa noção extremamente direta e simplista que hoje já vemos que não cabe em nossa realidade.
     
     Podemos fazer um paralelo entre a escola positivista e a noção atual de judicialização da política e politização do judiciário. Como foi dito na IX Jornada Inaugural do Direito “Marielle Franco”, na mesa 2, o judiciário, por ser o único poder não democrático – haja visto que os magistrados e muitos outros cargos do poder são escolhidos por concurso público – é hoje muitas vezes escolhido como o herói da nação, tendo em vista a falta de credibilidade por que sofrem o executivo e o legislativo. Isso faz com que muitos assuntos que não deveriam cair em sua jurisdição caiam, e com o apoio da sociedade. Tais ideias corroboram com o ideal positivista, no sentido de manutenção de ordem e bem público, além de serem justificadas pela ideia de harmonia social fundada no cumprimento de papel prescrito pela moral. Um exemplo que prova isso é a atuação do juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato, que teve atitudes que vão contra a tradição de nosso judiciário sob a desculpa de evitar tumultos. A crise nas instituições democráticas são o combustível para isso, aliada a um desejo geral de limpeza nos poderes. Este fato que acontece no país é danoso devido a verticalização do processo, além da ausência de critérios públicos de decisão e falta de necessidade de prestar contas, ou de alguém para prestar contas.

     O Brasil é um país que tem, historicamente, relação íntima com a escola positivista. A ideia de fixabilidade proposta pelo movimento, entretanto, é danosa para o país nos dias de hoje. Ela justifica abusos e desmandos nas mais diferentes áreas da sociedade, indo desde as intervenções violentas ordenadas pelo governo nas manifestações dos professores em São Paulo até a atuação de juízes em operações de grande porte que são do interesse da nação. A manutenção da ordem é então feita de maneira errônea, pois corta o diálogo entre os diferentes setores e vai diretamente contra a lei, entretanto em muitas partes da sociedade tais ações são apoiadas justamente por causa da carga positivista que carregamos em nossa cultura. Além disso, uma grande carga trazida pela ditadura militar corrobora para que grande parte da população pense desse jeito, carga esta que já havia sido influenciada pelos ideais positivistas em 1964.

     A escola positivista, apesar de importante em certo momento da história, já não cabe mais nos dias atuais. Temos hoje muitas escolas diferentes que explicam a organicidade da sociedade de maneira mais satisfatória e atual, em detrimento do engessamento positivista do século XIX. Apesar disso, devido a ideia de ordem e a simplicidade e causalidade da escola, além dos aspectos culturais que nos permeia até hoje, o positivismo é muito presente em muitos aspectos da sociedade brasileira. Não é possível dizer que seremos uma sociedade mais justa nos anos que virão se nosso judiciário, bêbado pelo poder que a carga positivista o trouxe, continuar usando dessa influência para se sobrepôr aos outros poderes, inclusive pelo fato de ele ser um exemplo para o cidadão comum que o seguirá caso ele escolha esse caminho, apoiando então os abusos hoje em dia cometidos.

Gabriel Reis e Silva, Direito noturno, Turma XXXV

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