"Isso é o que acontece com
uma vagabunda como você".
Essa frase nunca saiu da minha
cabeça, mesmo depois de tantos anos passados. Foi a última coisa que ouvi antes
de desmaiar. Me surpreende o fato de estar viva, minha querida, já que naquela
época o marido matar a esposa adúltera não era grande coisa. E fui adúltera.
Era quase como um crime, o adultério.
Como poderia? Eu trair o homem que me sustentava? Não, isso não podia. Os homens
precisavam manter sua superioridade sobre nós, afinal eles eram os chefes de
suas famílias! E foi isso que meu marido fez.
Refletindo sobre o que me
aconteceu, cheguei a conclusão de que fui um exemplo. Na época, minha dor serviu de
lição, e não apenas para mim, mas para outras mulheres, além de reconfortar os
homens que um dia tiveram o orgulho ferido.
"Isso é o que acontece com
uma vagabunda como você".
A situação de hoje em dia me
deixa feliz e triste ao mesmo tempo. Saber que você tem uma chance menor de se
tornar esse tipo de exemplo me deixa feliz. Porém, me entristece o fato dessa
chance ainda existir.
Se eu acho que a situação
continua, no fundo, do mesmo jeito? Bom, ganhamos algumas batalhas, mas a luta
continua. Acho que as mudanças aconteceram, porque nossa situação foi ficando
insustentável e ao mesmo tempo fomos ganhando força. Chegou um ponto em que não
podíamos mais ser ignoradas. Isso me faz pensar que a sociedade muda mais para
manter uma certa estabilidade do que para acabar de vez com os conflitos.
O importante é que passamos a
aprender a não nos calar com a dor das outras. A lição ensinada com a minha dor
foi mudando. Não faz mais sentido nos prenderem nas margens quando já podemos
nadar em águas profundas. Muitas foram afogadas nesse trajeto, mas o medo
deixou de nos paralisar.
Isabela Ferreira Sastre
1º ano Direito Diurno
Introdução à Sociologia - aula 6
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