As obras da série “Feios”, escritas por Scott Westerfeld,
descrevem uma sociedade que exemplifica perfeitamente as idéias de Durkheim e
pode ser comparada de forma assustadora com a nossa. No mundo fictício
existente no livro, todos os adolescentes são considerados feios e vivem
isolados até que completem 16 anos e ganhem uma “maravilhosa” cirurgia plástica
que elimina toda e qualquer imperfeição, inserindo-os em um novo ambiente.
Há, logo no início, a imposição de um padrão, uma regra de
conduta já tão presente na sociedade que mal abre espaço para dúvidas e críticas,
como o fato social de Durkheim. Claro, ao longo das obras também é mostrada a
existência de um motivo e a verdadeira função dessa cirurgia obrigatória, que
tem conseqüências que vão muito além de questões estéticas. Outro ponto
interessante é como esta permite a vida em sociedade, a aceitação, e chega a
moldar até mesmo a personalidade dos novos “perfeitos”. Esse suposto equilíbrio
pode ser relacionado com o conceito de densidade dinâmica.
Também é possível notar o poder coercitivo do fato social,
pois aqueles que se recusam a fazer a cirurgia são completamente excluídos da
sociedade. Eles perceberam que havia algo estranho no sistema, ao contrário dos
perfeitos, que estavam ocupados demais se divertindo. Até mesmo as regras
burladas por estes já são atitudes esperadas que se tornaram perfeitamente normais,
não um início de revolução, mas apenas mais um fato social. Enfim, os livros apresentam
um tema que, mesmo envolvendo estética, aborda de certa forma mais o contexto político e social
do que a natureza humana em si.
"Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Parafuso e fluído em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado
Mas lá vem eles novamente
E eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema"
Admirável Chip Novo - Pitty
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