Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas, disse a raposa ao Pequeno Príncipe. Sem trocadilhos, o
já não tão recente evento que tomou lugar na Unesp e dividiu opiniões, não
deveria ser pensado como evento isolado, e sim como uma amostra do momento em
que vivemos; sim, cativamos a liberdade de expressão, e por conseguinte a
possuímos, ou assim acreditamos, até que o “Príncipe” é calado, e as Pussy Riot
condenadas. Não, não entrarei nos méritos ideológicos defendidos, mas na forma
em que ambos foram impedidos de se expressar.
A raposa vai além na definição do
cativo, uma vez que este tem mais valor quanto mais tempo e cuidado com ele se
despendem. Temos cuidado da liberdade de expressão, defendendo-a com unhas e
dentes, até a morte, como diria Voltaire? Ou acreditamos ser ela relativa, ou
seja, estendida apenas aqueles que correspondem com nossos ideais? Damos realmente
valor à livre expressão? Ou já não conseguimos mais ouvir o diferente, mesmo
que para combatê-lo e principalmente
para isso fazer quando confrontados com o “discurso do ódio”, como intensamente
dito ser o do Sr. Bertrand de Orleans.
Os precedentes abertos com essas
manifestações me parecem um tanto quanto perigosos, afinal, criaremos guardiões
que decidirão à quem a liberdade de expressão se aplica? Sinto muito, mas não
acredito que calar grupos que tenham opiniões não aceitas pela maioria seja o
caminho para impedir sua influência. Na verdade, o que acontece é o efeito
rebote, eles ganham simpatia. Seria muito triste que em um meio que deveria ser
tão frutífero de ideias, opiniões e diversidade de pensamento, no qual deveríamos
estar aprendendo, ouvindo, analisando e criticando, nos limitemos a impedir o
outro de falar. Não, isso não é ser melhor, isso é não dar valor ao tempo,
esforço e cuidado que os anteriores a nós tiveram para cativar a liberdade de
expressão.
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