A ideia de um prisioneiro que foge
noturnamente de sua prisão para cometer crimes - por meio de um túnel cavado
quando este ainda estava em liberdade, como parte de um insano plano - e em
seguida regressa continuamente à prisão pode parecer somente uma fantasia
holliwoodiana, mas revela uma séria e pertinente questão a cerca do sistema
carcerário. O enredo acima citado pode ser encontrado no filme Código de Conduta (Law Abiding Citizen),
mas a questão central da crítica da eficácia do sistema carcerário pode ser
vista em uma realidade mais próxima. Longe da ficção, não faltam exemplos de
falta de eficácia em impedir crimes do sistema prisional brasileiro. Não são
novidades (ou ficção artística) os casos expostos pela imprensa em que
presidiários comandam o crime organizado de dentro dos presídios nacionais,
seja por meio de aparelhos de telefone celular ilegalmente transportados para
dentro do presídio, seja por meio da conduta duvidável (o eufemismo aqui nos
impede de usar vocabulário chulo) de profissionais do Direito. Estes são
exemplos que colocam em xeque o alto orçamento do sistema carcerário. Outro
aspecto do filme anteriormente citado é a justiça, seria alguma justiça melhor
que nenhuma justiça? Para responder esta pergunta talvez não seja possível
fugir de outra, a saber, o que é justiça? Desde os mais longínquos tempos a
humanidade convive com a ideia de justiça, seja ela a lei de talião, a lei da
justiça imposta pelo mais forte ou as recentes putas de direitos humanos. A
noção de justiça perece de certo modo ser intrínseca à vida em sociedade. Correndo o
risco de ser excessivamente simplista e abandonando concepções filosóficas, a
justiça nos parece ser, no mínimo, uma
construção humana partilhada por uma maioria social e ligada a certas
instituições. Se adotarmos esta concepção, a pergunta se alguma justiça é
melhor que nenhuma justiça perece perder o sentido, uma vez que nenhuma justiça
ou alguma justiça são resultados de escolhas decorrentes do funcionamento de instituições
construídas por nós. Talvez a verdadeira questão seja se a construção de nossas
instituições (no caso o sistema carcerário) como é atualmente feita é adequado ou
não para a resolução de nossos presentes problemas. O grande orçamento
utilizado na construção e manutenção de presídios versus a eficácia dos mesmos
e juntamente com uma pauta de direitos humanos parece indicar que esta
instituição deva ser reformulada, ou ao menos que os gastos com ela devam ser
repensados. Mesmo que ainda não tenhamos, em última instância, uma verdadeira alternativa
ao aprisionamento, o funcionamento deste deve ser repensado para algo muito diverso
do atual sistema.
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