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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Positivismo de Comte como fator de síntese da ordem e do progresso ou da irrelevância posta para com as humanidades?

 

A influência iluminista no autor da física social é nítida, partindo do pressuposto que o entendimento do mundo adotado em tal análise ultrapassa os ditames de crenças populares e as realizações pregadas pela religião, enfatizando as explicações lógicas do ser humano como base para o conhecimento vigente. Ora, assim como Isaac Newton relaciona a queda da maçã com a gravidade da Terra e não mais porque “Deus quis que aquilo acontecesse”, as relações sociais também seguem os mesmos princípios de ordenamento natural, tendo em vista o fluxo de contato que existe entre Homem e natureza. Desta forma, se tudo está interligado, há de se concordar que a existência de fenômenos satisfatórios para a abordagem de um tema, independentemente de qual seja este, esteja em completa harmonia com as definições lógicas para o entendimento integral. Assim, a busca pelo empirismo e pragmatismo é considerado nas análises sociológicas, tal como nas ciências da natureza. Logo, a ordem, a qual fomenta o progresso, é realizada. Será?

 O conceito de ordem é estabelecido tendo como princípio a conjuntura dos fenômenos tal como eles se apresentam, sendo apenas aceito seu modo de agir e ser no mundo de forma a dialogar apenas com sua própria existência. Deste modo, como um corpo social pode ser compreendido da mesma forma, já que as interações sociais são caracterizadas como o ápice da complexidade do entendimento? Vale ressaltar que o direito ao voto feminino só foi empregado no Brasil em 1932 e que, até 1962, as mulheres tinham que ter autorização do marido para trabalhar fora do lar, já que eram consideradas incapazes. Além do mais, só em 2021 que o direito à defesa de honra foi anulado pela justiça brasileira. Assim, nota-se o processo de mudança e a complexidade das relações instituídas pela comunidade em geral, não podendo ser atribuído de forma igualitária ao fenômeno da gravidade, explicado pelos conceitos newtonianos.

 Seguindo o mesmo exemplo, o progresso pode ser colocado em dúvida por possuir uma definição abstrata sobre sua ontologia. Claro, progresso tecnológico, que resulta em melhoria na qualidade de vida da população, é fruto de um ordenamento evolutivo para o alcance de tal objetivo. Mas e o progresso em relação aos valores, ética e moral da conjuntura social? Assim como na ordem, o progresso, de maneira paradoxal, é estático se levado em consideração a base que suscitou a evolução humana. Ou seja, os preceitos do passado foram responsáveis pela evolução qualificada como é observada atualmente e, se deste modo for, enfatiza-se o machismo, a homofobia, o racismo e a intolerância religiosa como fomentadores desta evolução.

 Em síntese, o positivismo como física social de Auguste Comte atua na tentativa de realçar a importância da ciência humana como estudo e estabelecer sua proeminência nas normas constituintes da sociedade, mas peca por subtrair aquilo que é mais valioso nesta análise: a própria ciência humana. Nota-se, portanto, que a falta de consideração da antropologia, economia, política, filosofia, religião e história empobrece o teor prático das resoluções apresentadas, já que os fatores paradoxais “ordem e progresso” não respondem por si só, mas como desmembramentos das outras vertentes humanas.

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