A
influência iluminista no autor da física social é nítida, partindo do
pressuposto que o entendimento do mundo adotado em tal análise ultrapassa os
ditames de crenças populares e as realizações pregadas pela religião,
enfatizando as explicações lógicas do ser humano como base para o conhecimento
vigente. Ora, assim como Isaac Newton relaciona a queda da maçã com a gravidade
da Terra e não mais porque “Deus quis que aquilo acontecesse”, as relações
sociais também seguem os mesmos princípios de ordenamento natural, tendo em
vista o fluxo de contato que existe entre Homem e natureza. Desta forma, se
tudo está interligado, há de se concordar que a existência de fenômenos
satisfatórios para a abordagem de um tema, independentemente de qual seja este,
esteja em completa harmonia com as definições lógicas para o entendimento
integral. Assim, a busca pelo empirismo e pragmatismo é considerado nas
análises sociológicas, tal como nas ciências da natureza. Logo, a ordem, a qual
fomenta o progresso, é realizada. Será?
O conceito de ordem é estabelecido tendo como
princípio a conjuntura dos fenômenos tal como eles se apresentam, sendo apenas
aceito seu modo de agir e ser no mundo de forma a dialogar apenas com sua
própria existência. Deste modo, como um corpo social pode ser compreendido da
mesma forma, já que as interações sociais são caracterizadas como o ápice da
complexidade do entendimento? Vale ressaltar que o direito ao voto feminino só
foi empregado no Brasil em 1932 e que, até 1962, as mulheres tinham que ter
autorização do marido para trabalhar fora do lar, já que eram consideradas
incapazes. Além do mais, só em 2021 que o direito à defesa de honra foi anulado
pela justiça brasileira. Assim, nota-se o processo de mudança e a complexidade
das relações instituídas pela comunidade em geral, não podendo ser atribuído de
forma igualitária ao fenômeno da gravidade, explicado pelos conceitos
newtonianos.
Seguindo o mesmo exemplo, o progresso pode ser
colocado em dúvida por possuir uma definição abstrata sobre sua ontologia.
Claro, progresso tecnológico, que resulta em melhoria na qualidade de vida da
população, é fruto de um ordenamento evolutivo para o alcance de tal objetivo.
Mas e o progresso em relação aos valores, ética e moral da conjuntura social?
Assim como na ordem, o progresso, de maneira paradoxal, é estático se levado em
consideração a base que suscitou a evolução humana. Ou seja, os preceitos do
passado foram responsáveis pela evolução qualificada como é observada
atualmente e, se deste modo for, enfatiza-se o machismo, a homofobia, o racismo
e a intolerância religiosa como fomentadores desta evolução.
Em síntese, o positivismo como física social
de Auguste Comte atua na tentativa de realçar a importância da ciência humana
como estudo e estabelecer sua proeminência nas normas constituintes da
sociedade, mas peca por subtrair aquilo que é mais valioso nesta análise: a própria
ciência humana. Nota-se, portanto, que a falta de consideração da antropologia,
economia, política, filosofia, religião e história empobrece o teor prático das
resoluções apresentadas, já que os fatores paradoxais “ordem e progresso” não
respondem por si só, mas como desmembramentos das outras vertentes humanas.
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