O positivismo justifica o
preconceito?
“O útil frente ao inútil, o
certo frente ao incerto”. Tal frase do ideário positivista pode ser vista como
uma das principais ideias defendidas com Auguste Comte, formulador da escola
positivista e considerado o pai da sociologia. Sua obra buscou pautar-se na
valorização à ordem, ao progresso e à utilidade aparente dos objetos observados,
tendo na busca da formulação de leis invariáveis – que expliquem a conduta
humana – sua principal tese. Dessa forma, esse pensamento empirista baseou-se
na observação dos fenômenos cotidianos e, de forma boa ou ruim, influenciou
diversos pensadores conservadores, tendo em seu rol o professor Olavo de
Carvalho.
Sob esse ponto de vista, Olavo de
Carvalho procurou pautar sua obra na desvalorização das lutas das minorias,
tentando justificar suas preconceituosas teorias através do ideal utilitário
positivista. Explicitando que a heterosexualidade seria “superior” a
homossexualidade devido à sua imprescinbilidade à vida, o autor argumenta que a
existência de direitos que abordem uma temática protetora estritamente
homossexual faz-se desnecessária pois, de acordo com Carvalho, como o grupo é
incapaz de gerar descendentes naturalmente, os mesmos não seriam dignos de uma
política protetora. Infelizmente, ao traçar essa tese, Olavo covardemente
exclui o sangrento fardo histórico carregado pelo grupo LGBT no Brasil da
política pública brasileira. O Brasil é o país que mais mata LGBT´s da américa
latina, com uma vítima a cada 19 horas, segundo estudo da Associação Internacional de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (ILGA)
Dessa maneira, o escritor afirma
que “ninguém lhes nega o direito de serem como são, e sim a pretensão a que
esse modo de ser lhes garanta outros direitos suplementares”, deixando clara
sua posição de que a proteção à vida, à dignidade e honra homossexual seria uma
“valorização” da homossexualidade perante à heterossexualidade e não, por fim,
um modo de salvaguardar seu direito de igualdade. Soma-se a sua notável (ou
leiga) capacidade de generalização e banalização da opção sexual alheia,
tornando a relatividade e subjetividade dos gostos de cada indivíduo um mero
desvio na “lei invariável e natural da masculinidade”. Em vista disso, Olavo de
Carvalho utiliza-se da tentativa positivista de criar uma espécie de lei capaz
de abordar todas formas de expressão humana, enfim, como uma maneira de maquiar
seus preconceitos enraízados.
Conclui-se, assim, que Olavo de
Carvalho hipocritamente tenta desvincular a comunidade gay do conceito de
progresso da humanidade, procurando argumentar superficialmente sobre a
“inferioridade” e “incapacidade” que a comunidade LGBT supostamente teria
diante da comunidade hétero. Entretanto, o próprio autor acaba perdendo-se
dentro da ideologia comtiana, tendo em vista que mesmo a escola positivista
busca integrar os estudos da relatividade do indivíduo como uma forma de tornar
ainda mais abrangente sua teoria.
Lucas Perseguino Rodrigues de Araujo - Direito Diurno
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