A
perspectiva de Hegel sobre o Direito pode ser fundamentada em um
ponto principal: o Direito seria uma forma de suprir demandas da
evolução do Homem em sociedade, tornando-se assim o pressuposto da
felicidade. Segundo Marx, ao acreditar que a razão do homem se
desenvolveria por si própria e que a vontade de cada indivíduo
coincidiria com ela, Hegel idealiza a universalidade do Direito e
poetiza os verdadeiros fundamentos e objetivos do mesmo. Para Marx, o
Direito seria somente uma ferramenta de dominação político-social
das classes mais fortes e instruídas sobre as mais fracas e menos
abastadas, criando uma segregação ainda maior entre elas. A
respeito da visão de Marx, pode-se citar o caso Pinheirinho,
ocorrido no início de 2012.
A
propriedade - um bairro localizado em São José dos Campos, no
estado de São Paulo, supostamente pertencente à uma massa falida da
empresa Selecta S/A e abandonado há mais de dez anos - tinha sido
ocupada irregularmente desde 2004. Com mais de 9 mil habitantes e uma
área superior a 1 milhão de metros quadrados, o bairro do
Pinheirinho sofreu uma operação de reintegração de posse
determinada pela justiça estadual, utilizando como meios cortes de
energia elétrica e água, disparos de armas de fogo e principalmente
a força por parte de policiais. Diversos moradores relataram casos
de abusos sexuais e de autoridade, além de violência física com
espancamentos e tiros de balas de borracha. Fica claro o confronto
entre o direito à propriedade, representado pelo empresário titular
do terreno, e o direito à moradia, representado pelos moradores que
foram expulsos de suas casas de forma violenta e desrespeitosa. É
importante lembrar que o terreno se encontrava improdutivo e
abandonado por mais de dez anos antes da ocupação dos moradores do
Pinheirinho, o que faria com que o direito à moradia sobresaísse
como medida mais urgente e notória. Nesse contexto é possível
encaixar as opiniões de Marx, que tem o Direito como existente para
contemplar a economia capitalista e como consequência, a vontade da
classe dominante. Apesar de juristas e entidades políticas e sociais
denunciarem o caso à autoridades internacionais e questionarem a
violação aos direitos fundamentais humanos, os abusos policiais e a
legitimidade das decisões judiciais, nenhum policial ou magistrado
foi responsabilizado e os moradores foram desalojados sem nenhuma
alternativa de moradia.
O
que se conclui da maneira com que o caso foi julgado é a falta de
imparcialidade e a preferência que foi dada ao capital, acima de
qualquer direito básico. Disso depreende-se que justo ou não, o
Direito é tido como correto e é aceito por todos pelo simples fato
de ser lei. A vitória da propriedade privada, dos bens materiais e
das classes dominantes sobre os direitos humanos, as reivindicações
sociais e a liberdade dos moradores mostra apenas como o Estado
moderno de Direito de Hegel é apenas uma abstração, assim como
grande parte das garantias positivadas (como o direito à moradia e a
função social da propriedade).
Vitória Schincariol Andrade
Turma XXXI - 1º Ano Noturno
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