Pai da sociologia, Émile Durkheim, analisa a sociedade de modo que sejam utópicas confecções de previsões ou julgamentos, sendo a maneira correta o que pode ser mais próximo da compreensão, em determinado momento da história. Enaltece-se, em sua visão, um olhar livre de envolvimentos, vínculos, moralidades e paixões, afim de que se obtenha um distanciamento do objeto estudado e, portanto, dotar de credibilidade a ciência da sociologia.
A
regra de tratar o fato social como uma coisa diverge de um crivo de raciocínio
kantiano, no qual se derivam das ideias as coisas, visto que, com Durkheim,
derivam-se das coisas as ideias. Ademais, confronta-se a linha positivista de
Comte, uma vez que este afirmava ser o progresso o destino da sociedade, isto
é, faz uma interpretação pessoal da história, valorizando sua idéia, e não o
que realmente é. O pai do positivismo tomou como sendo desenvolvimento
histórico a própria noção que tinha a esse respeito. Dever-se-ia não esperar da
sociedade o progresso, mas meramente compreendê-la, de maneira ímpar. Pode-se,
nesse aspecto, fazer uma menção a Francis Bacon, à citação de que atrapalham
nosso julgamento os ídolos da mente, ou seja, noções pré-concebidas.
No
mundo hodierno, muito se aplica o pensamento de Durkheim, inclusive na ciência do
Direito, almejando a um juízo adjacente à justiça e visando à imparcialidade
para o cumprimento desse objetivo. Fatos tidos como negativos à nossa sociedade
são ainda fatos corriqueiros com os quais o povo tem de “aprender a conviver”,
contanto que não passem a serem consideradas patologias. Para ilustrar: uma
assistente social tem que atender de maneira igual e imparcial o detento
indiferente e um detento que acabara de estuprar a mãe desse assistente.
Assim,
conclui-se que substratos passionais da nossa consciência afetam nossa análise
crítica dos fatos, de modo a obstar a busca pela observação empírica e
científica. Deve-se dar primazia às prioridades superiores como o intelecto e a
racionalidade em detrimento de algo que não passe pelo crivo do raciocínio
livre de juízos.
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